‘Dessa vez é para valer’, diz Datena sobre disputar eleições
Apresentador aparece com 7% em levantamento de seu partido, o PSL, atrás apenas de Lula e Bolsonaro na corrida presidencial para 2022
Presença constante no notíciário das últimas eleições como possível candidato, seja no âmbito nacional ou municipal, o apresentador José Luiz Datena filiou-se no início do mês ao PSL, ex-sigla do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), e garante que desta vez é para valer. Só não se sabe candidato a que: presidente, senador ou governador. A escolha, diz, está nas mãos do partido. Mas o que tem mais feito brilhar seus olhos é a chance de concorrer ao Palácio do Planalto, principalmente depois que o presidente do PSL, Luciano Bivar, levantou essa possibilidade nas últimas semanas. Graças à sua enorme popularidade construída em muitos anos de trabalho na TV, Datena teria apelo como “outsider” numa corrida presidencial, conforme ficou demonstrado na pesquisa divulgada nesta quinta-feira, 29.
Com cerca de 7% das intenções de voto para a Presidência, a depender do cenário em uma pesquisa contratada pelo seu partido ao instituto Paraná Pesquisas, Datena está atrás apenas dos favoritos Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Bolsonaro e à frente de nomes experimentados como Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB). “Para quem não faz campanha e está sendo lançado agora, acho que está razoabilíssimo. Estar perto do Ciro Gomes e na frente de muito político de carreira é um resultado muito bom”, disse. Em entrevista a VEJA, Datena afirma que pode se viabilizar como candidato de terceira via, mas não descarta uma aliança com Ciro Gomes, com quem apareceu tecnicamente empatado, para quem um único nome possa fazer frente a Lula e Bolsonaro na disputa e faz projeções do que faria caso ganhe as eleições.
Leia a entrevista:
O senhor já se apresentou como candidato em outras eleições e desistiu antes da campanha. Dessa vez é para valer. Já contestaram isso, falaram que eu nao ia sair a nada. Mas eu não respondo a boca de aluguel, só respondo à voz do dono.
Mas será candidato a que exatamente? Isso depende do partido. Eu continuo ancorado com a possibilidade de disputar o senado ou o governo de São Paulo. Por enquanto eu sou apresentado como pré-candidato único do PSL e não tenho medo nenhum de disputar a Presidência da República. Pelo contrário. Cada vez mais se concretiza a possibilidade de que exista mesmo uma terceira via para que o brasileiro tenha mais opções. O Brasil precisa pensar em si, não só em duas pessoas. Lula e Bolsonaro já fizeram o que tinham que fazer pelo Brasil.
Acha que uma terceira via terá chances? Há que se ter mais gente que se apresente como alternativa. Se o brasileiro gosta do Brasil que está aí, a chance de votar neles continua sendo grande e a polarização vai continuar até as eleições. Mas não acredito que será assim. É preciso outra possibilidade. Eu sou o que tem menos rejeição.
Há outros nomes na disputa. Sem o Bolsonaro e sem o Lula eu abriria uma vantagem grande sobre o Ciro, que é um candidato muito bom. Na média das pesquisas eu e ele temos 7% cada um. Juntos, 14%. Já pensou numa aliança com o Ciro?
Eu que te pergunto. Não está afastada nenhuma possibilidade. Para você quebrar a probabilidade de ter uma disputa entre só dois, alguém deve abrir mão.
Quem deve abrir mão, então: o senhor ou o outro candidato? Isso também depende do partido e de quem estiver melhor posicionado. Se você tem possibilidade de se juntar a quem está na frente da pesquisa, por que não? Tudo o que o Lula e o Bolsonaro querem é essa divisão. Sete porcento meus, com sete porcento do Ciro, por exemplo, dá 14%. Isso começa a preocupar quem está na frente.
O senhor cita o Ciro, mas faria aliança com o governador João Doria ou o ex-ministro Luiz Henrique Mandetta, que também estão colocados na pesquisa? Pelas afinidades e pelos números, teria que ser os que estão mais à frente. Estou dizendo só que eu eu e o Ciro estamos lançados mais à frente. Não que eu tenha algo contra os outros. Assim como não tenho nada contra o Lula e o Bolsonaro. Alianças politicas devem surgir para que o Brasil não fique polarizado. É uma polarização, inclusive, de rejeições.
O senhor acha que é capaz de avançar sobre o eleitorado de direita, com a redução do apoio ao Bolsonaro? Quem fala isso com base em meu programa, é porque não o assiste. Eu falo de segurança pública, mas também de desemprego, de falta de moradia, de gente que não come, da diferença de renda canalha que existe no Brasil, com muita gente com muito dinheiro na mão. Quer discurso mais social que esse? Meu programa era muito mais policial do que social. Hoje o Jornal Nacional e o Jornal da Band dão muito mais notícia de polícia do que eu. Quem me assiste sabe que eu passo ideias muito mais complexas do que parece à primeira vista.
O senhor se vê disputando votos com o Lula, então? Não tenha dúvida que tem muito cara de esquerda que vota em mim. Eu não escolho voto.
Na hipótese de o senhor vencer a eleição, qual seria sua primeira medida? Geração de trabalho. O brasileiro não precisaria de auxílio-emergencial ou de Bolsa Família se tivesse a dignidade de um emprego. O Brasil precisa de obra para todo lado com emprego para que o brasileiro tenha a dignidade de ter o seu salário e não ficar pedindo esmola nem para o Paulo Guedes ou quem quer que seja.
Com que dinheiro? O governo precisa gastar menos para sobrar mais para o povo. Mas se precisar quebrar o Estado para deixar o povo comendo eu quebro o Estado para deixar o povo comendo.
Isso apavora o mercado. Mas isso passa pela Faria Lima porque a criação de emprego passa pelos bons empresários que nós temos. Não há esse antagonismo para mim, de luta de classes. A Lava-Jato puniu empresários canalhas e isso deu uma falsa impressão. O empresariado brasileiro é fantástico. O povo precisa do bom empresário porque ele gera emprego. Quando eu falo em quebrar o estado siginifica incentivar as empresas honestas e decentes para que elas possam crescer cada vez mais e isso alavanca a economia.
O que acha de privatizações? A privatização bem feita, atraindo capital externo, bem regulada, sem que ninguém leve dinheiro no meio do caminho é necessária. Mas fazer como fizeram no Amapá, em que uma empresa que ninguém conhecia e ninguém sabe onde estava a Aneel, que regula pouco, deixou o estado sem energia elétrica. Não pode ser de qualquer jeito.
O senhor já foi do PT e hoje está no PSL. Se define como alguém de esquerda ou direita? Eu sou pela Constituiçao brasileira porque ela fala em povo e é rasgada todo dia. Não sou nem de esquerda nem de direita, eu sou constitucionalista. Enquadrar [em um campo ideológico] é para a Monalisa, uma obra de arte maravilhosa que esta no Louvre. Eu não tenho moldura. Volta e meia você vê a Constituição sendo jogada no lixo com emendas, desrespeito e atos antidemocráticos.
Vê risco de não haver eleições diante das últimas ameaças? A Constituição está acima de todos e tem que ser respeitada. Estranhei quando vi a notícia de que o general Braga Netto, que é um cara que repeito e em quem percebo princípios democráticos, ameaçou a eleição por causa do voto impresso. Aquilo extrapolou o poder dele, deveria ter pensado melhor. O presidente também volta e meia tem arroubos de romper com os princípios democráticos que não cabem mais no país. Qualquer coisa que ameace o equilíbrio entre os poderes significa mexer no lago da democracia e isso provoca ondas que não são boas para ninguém.
Mas há risco para o senhor? Não acho que os militares pretendam arranhar a Constiuição, dar golpe ou coisa parecida. Nao vejo clima para isso e não acho que as Forças Armadas sejam capazes disso, em hipótese nenhuma.
Como vê a participação de militares no governo? É uma coisa mais ou menos lógica que o presidente, vindo das Forças Armadas, se cercar gente que ele gosta e confia. Os militares de hoje sempre pensaram na pátria, mas enquanto estiverem exercendo cargos públicos eles têm que exercer cargos públicos e só. Quem exerce o cargo de ministro, deixa de ser militar e passa a ser ministro. Inclusive, deve poder ser investigado como qualquer cidadão.
O que acha da entrada do Ciro Nogueira no governo? Eu acho que é muito bom, independentemente do que pensam a respeito dele, é um articulador político muito habilidoso e é capaz de dar um pouco mais de tranquilidade ao Brasil exatamente porque ele vai fazer esse elo entre o Executivo e os demais poderes. O desequilíbrio de poder não é interessante para ninguém. Precisamos de equilíbrio.