Crítico da esquerda, Marçal propõe bandeiras de Boulos e do MTST
Plano de governo de candidato do PRTB quer transformar imóveis vazios em moradias populares e promover mutirões comunitários para a construção de casas

Embora seja um crítico ferrenho da esquerda, o empresário e coach Pablo Marçal, candidato à prefeitura de São Paulo pelo PRTB, apresentou ao menos duas propostas que lembram bandeiras historicamente defendidas pelo seu concorrente Guilherme Boulos (PSOL), justamente no segmento em que ele iniciou a atuação política. No capítulo dedicado à habitação, o plano de governo enviado por Marçal à Justiça Eleitoral propõe transformar imóveis vazios em moradias populares e a realização de mutirões comunitários para a construção de casas para a população de baixa renda.
Marçal promete fazer “o maior programa habitacional da história, com a construção de novas casas nas periferias e com o mapeamento, gestão e transformação de imóveis vazios na cidade em habitações populares, em parceria com o setor privado”.
A ocupação de prédios vazios e sem função social é o ponto central da atuação do Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto (MTST), organização que foi o berço da formação política de Boulos. Em 2020, quando se candidatou à prefeitura de São Paulo pela primeira vez, o hoje deputado federal propôs um amplo mapeamento dos imóveis abandonados da cidade e a desapropriação de 40 mil deles para transformar em unidades de moradia popular.
Naquele ano, no seu plano de governo constava o compromisso de “garantir o cumprimento da função social da propriedade nos imóveis ociosos, públicos ou privados, sobretudo àqueles localizados em regiões mais bem dotadas de infraestrutura, destinando-os à produção de Habitação de Interesse Social (HIS).”
Neste ano, Boulos promete realizar um amplo programa de regularização fundiária para atender 250 mil famílias. “Vamos disponibilizar novas moradias, requalificando com retrofit edifícios públicos abandonados para locação social e serviço social de moradia, a exemplo do modelo já adotado em grandes metrópoles globais.”
Mutirões comunitários
Outra proposta da chapa da chapa Pablo Marçal e Antonia de Jesus, sua candidata a vice, que se assemelha à da coligação de esquerda formada por Guilherme Boulos e Marta Suplicy (PT) é a de “organizar mutirões comunitários para a construção de moradias populares e reforma de favelas, envolvendo a comunidade local no processo”.
Segundo o plano de governo do candidato do PRTB, isso não apenas melhora as condições de vida, mas também fortalece os laços comunitários. “A participação comunitária em projetos habitacionais aumenta a sustentabilidade e a aceitação dos projetos”, diz o texto.
O modelo de mutirões comunitários para a construção de moradias populares proposto por Marçal foi implantado em São Paulo no governo petista de Luiza Erundina (1989-1993), hoje deputada federal pelo PSOL. Em 2020, o então candidato à prefeitura Guilherme Boulos fez constar em seu plano de governo a proposta de “retomada dos mutirões da Erundina para moradia popular”. Na ocasião, a ex-prefeita era sua candidata a vice.
No plano deste ano, Boulos promete a construção de 50 mil unidades habitacionais de interesse social, seja por meio de um programa municipal de construção de novas moradias, seja pelo Minha Casa, Minha Vida. “Promoveremos ainda a atuação conjunta com entidades e cooperativas para construção habitacional, estimulando a gestão direta de projeto e obra e a contratação de Assistência Técnica de Habitação de Interesse Social (ATHIS).”
‘Consolidação da proposta’
Ex-superintentende de Habitação Popular da prefeitura de São Paulo na gestão de Erundina e autor da lei de autogestão da moradia, o arquiteto Nabil Bonduki, professor titular de Planejamento Urbano da USP, disse achar “ótimo” o fato de um candidato com perfil de direita como Pablo Marçal propor multirões para construção de casas populares. “É a consolidação da proposta”, disse.
Procuradas, as campanhas de Marçal e Boulos não quiseram comentar.