‘Brasil sempre foi país para as máfias’, diz procurador Nicola Gratteri
Uma das autoridades no combate às organizações criminosas da Itália, ele afirma que países não estão preparados para combater ilícitos no mundo digital

Era 1991 quando o procurador Nicola Gratteri, um dos principais nomes do combate às organizações mafiosas na Itália, veio ao Brasil pela primeira vez. O interesse investigativo estava relacionado ao porto de Santos, que já era conhecido das autoridades internacionais por ser um dos pontos de partida para distribuição de cocaína à Europa.
“Investigações se intensificaram porque, digamos, o Brasil sempre foi considerado um país para as máfias, um país favorável para a partida da cocaína do porto de Santos. Nossas investigações sempre nos levaram ao porto de Santos”, disse o procurador, que esteve recentemente no Rio de Janeiro para a 12ª Semana Internacional da Fundação Magna Grécia.
“Hoje, há uma melhor conexão com essas organizações criminosas nascidas nas prisões brasileiras, que se tornaram um problema, são muito perigosas”, afirmou o procurador ao citar a criação de grupos criminosos como Primeiro Comando da Capital (PCC) que mantém relação no mundo do comércio das drogas com a ‘Ndrangheta, máfia calabresa.
Em São Paulo, por exemplo, a polícia brasileira já prendeu integrantes da organização criminosa do sul da Itália na zona leste da capital. O motivo para mafiosos permanecerem no Brasil é comandar a rota de tráfico de drogas entre a América do Sul e a Europa. Por ser o maior país latino-americano, o território brasileiro é usado como passagem para o transporte dos produtos ilícitos. “Não é uma base de produção. É só de passagem”, disse Gratteri. A produção fica a cargo de criminosos da Bolívia e Colômbia, por exemplo. Autoridades sempre questionaram, no entanto, que o material para produção da cocaína parte do Brasil, o que torna o país um auxiliar crucial para as substâncias ilegais.
O avanço do crime organizado está aumentando, segundo Gratteri. Isso porque o procurador afirmou que “não estamos preparados, no campo internacional, para combater o crime organizado no ambiente digital”. Ou seja, apesar da continuidade das máfias junto ao comércio de drogas, há aumento significativo da atuação em crimes cibernéticos. Para ele, não se imaginava que os bandos criminosos seriam tão rápidos no uso de recursos da tecnologia, como dark web. “Se a internet é um lago, a dark web é um oceano, um grande supermercado onde podem encontrar tudo que é ilícito. O corpo de uma pessoa, duas toneladas de cocaína, armas de guerra. As que estão sendo usadas na Ucrânia, custam 30 mil euros na dark web”, exemplificou Gratteri.
Para os próximos meses, Brasil e Itália assinaram termo de cooperação na tentativa de combater crimes pela internet para fechar cerco contra máfias. Atuação vista como tardia, mas pelo menos começará.