Brasil registra o maior número de estupros da história em 2024
Anuário da Segurança Pública indica que casos de violência cresceram entre mulheres, crianças e adolescentes

Mulheres, crianças e adolescentes estão entre as principais vítimas da grave crise de segurança pública que atinge o Brasil. Em 2024, as polícias registraram nada menos que 87.545 ocorrências de estupro em todo o país, maior número da série histórica iniciada em 2011, segundo dados do Anuário de Segurança Pública publicados nesta quinta-feira, 24.
Segundo o relatório, 88% das vítimas de estupro no ano passado são mulheres, sendo 33% crianças e adolescentes na faixa dos 10 a 13 anos de idade. O estudo indica que mais da metade dos casos de abuso sexual atinge mulheres negras e dois terços ocorrem dentro de casa — 45,5% dos agressores são pessoas da família e outros 20,3% são parceiros ou ex-parceiros de relacionamento íntimo.
“Um fator que não pode ficar de fora da discussão é a subnotificação, dado que estudos têm indicado que no Brasil o número real de casos de estupro supera os registrados pelas polícias. Muitos casos de violência sexual – especialmente os que envolvem crianças, adolescentes e pessoas em situação de vulnerabilidade – não chegam ao conhecimento das autoridades”, avalia o Fórum de Segurança Pública, responsável pela publicação do Anuário. A estimativa é que apenas 8,5% dos casos de agressão sexual sejam registrados pela polícia, segundo estudo do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publicado em 2023.
De acordo com o Anuário, a cidade de Boa Vista lidera o ranking nacional em estupros e estupros de vulneráveis, com taxa de 132,7 casos por 100 mil habitantes. A capital roraimense é seguida por Sorriso, no Mato Grosso (131,9 por 100 mil), e pelos municípios de Ariquemes (122,5), Vilhena (108,7) e Porto Velho (108,6), todos em Rondônia.
Tentativas de feminicídio e casos de stalking disparam em 2024
Ainda segundo o estudo publicado nesta quinta-feira, os casos de tentativa de feminicídio seguem em disparada no Brasil. Em 2024, 3.870 mulheres sofreram tentativa de assassinato, 19% a mais do que no ano anterior.
Em relação aos casos consumados de feminicídio, os registros cresceram 0,7% e causaram 1.492 vítimas no ano passado. Em cada dez mortes, oito foram praticadas pelo companheiro ou ex-companheiro — quase dois terços das mulheres mortas eram negras, e nada menos que 97% dos assassinos eram homens.
Outro dado alarmante indica alta no crime de stalking, que envolve a perseguição física ou digital de mulheres. Segundo o Anuário, os registros desta prática escalaram 18% entre 2023 e 2024, chegando a 95.026 vítimas no ano passado.