Bolsonaro trocou mais o comando da PF que Lula, Dilma e Temer juntos
Em menos de quatro anos de mandato, órgão já teve seis diretores-gerais

Investigado no Supremo Tribunal Federal por uma suposta interferência na Polícia Federal para favorecer sua família, o presidente Jair Bolsonaro (PL) coleciona mais trocas no comando do órgão sob sua gestão do que seus antecessores Michel Temer (MDB), Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) somados.
Com a nomeação de Márcio Nunes de Oliveira como diretor-geral da PF no final do mês passado, Bolsonaro chegou à quinta mudança no órgão em menos de quatro anos de mandato. Antes dele, o capitão havia colocado no comando da PF Paulo Gustavo Maiurino, Rolando Alexandre de Souza, Maurício Valeixo e Rogério Galloro.
A dança das cadeiras no órgão supera as mudanças feitas nas gestões Temer (que teve só um diretor-geral, Fernando Segovia), Dilma (Leandro Daiello) e Lula (Luiz Fernando Corrêa e Paulo Lacerda). O governo campeão de trocas até agora, entretanto, é Fernando Henrique Cardoso, com seis mudanças.
No Palácio do Planalto, a última troca é atribuída ao Ministério da Justiça, a quem a PF é subordinada. Mas o órgão sempre foi uma área sensível para Bolsonaro. As mudanças, por exemplo, já culminaram com a queda de delegados que conduziam investigações a respeito do próprio presidente e seus filhos Jair Renan e o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ).
Bolsonaro também nunca escondeu sua insatisfação com os dois inquéritos que concluíram que Adélio Bispo, autor do atentado a faca que o presidente sofreu na campanha de 2018, agiu sozinho.
Na reunião que precedeu a saída de Sergio Moro do Ministério da Justiça, o presidente se queixou que não recebia informações do órgão: “Tenho a PF que não me dá informações”, esbravejou, em 22 de abril de 2020. “Não dá para trabalhar assim. Fica difícil. Por isso, vou interferir” — essa fala e as acusações de Moro renderam o processo sobre interferência no STF.
A PF ainda conduz inquéritos que atingem o presidente sob suspeita de divulgar notícias falsas sobre as vacinas, fomentar ataques a ministros do Supremo, atacar as urnas eletrônicas e vazar dados sigilosos sobre um ataque hacker aos sistemas da Justiça Eleitoral.