Relatada por uma série de reportagens de VEJA nos últimos meses assinadas pelo jornalista Reynaldo Turollo Jr., a participação de Walter Delgatti Neto na campanha de Jair Bolsonaro virou objeto de uma investigação da Polícia Federal e tema quente da CPMI do 8 de Janeiro. Embora os aliados do ex-presidente tenham tentado desacreditar o hacker, grande parte das informações dele já está comprovada, confira a seguir:
Encontro com o presidente no Alvorada — conforme comprovou reportagem de VEJA, com exclusividade, o hacker se encontrou com Bolsonaro numa agenda secreta na manhã do dia 10 de agosto do ano passado. Zambelli e o próprio ex-presidente confirmaram a reunião e o tema tratado: a suposta fragilidade das urnas. Delgatti ficou no Alvorada por quase duas horas. O hacker deixou o local com a expectativa de que seria integrado à campanha de Bolsonaro como peça de propaganda. A ideia era usar sua fama de invasor de sistemas para atacar a credibilidade das urnas eletrônicas nas eleições.
Pagamentos de Zambelli — segundo Ariovaldo Moreira, advogado de Delgatti, a deputada bolsonarista pagou 40.000 reais pelos serviços do hacker. Com despesas pagas por Zambelli e sob orientação dela, Delgatti passou um período em Brasília e abriu formalmente uma empresa, a Delgatti Desenvolvimento de Sistemas, em 22 de agosto do ano passado.
Encontros com militares — ao sair da reunião no Alvorada, o hacker foi levado ao Ministério da Defesa para falar sobre as urnas com os militares, incumbidos de encontrar falhas no sistema. A partir da ida à Defesa, o hacker encampou o discurso — corrente entre alguns militares — de que o código-fonte responsável pelo funcionamento das urnas podia, sim, conter um “código malicioso” que roubasse votos de Bolsonaro para Lula. Dentro dessa teoria conspiratória, uma espécie de chave secreta embutida nos equipamentos estava preparada para mudar a decisão dos eleitores do presidente em favor do petista. Delgatti passou a dizer também que estava convencido de que somente um teste de integridade feito na hora e no local da votação, com a biometria de eleitores reais, seria capaz de mostrar se os equipamentos estavam registrando os votos corretamente. Esse era o principal pleito da Defesa junto ao TSE e acabou sendo aceito parcialmente por Moraes. O ministro determinou que o teste de integridade com biometria fosse realizado, mas em pequena amostra das urnas, para não atrapalhar a votação.
Segundo fontes ouvidas por VEJA, o hacker teria sido conduzido à Defesa pelo coronel Marcelo Costa Câmara, assessor especial de Bolsonaro na Presidência. Dentro do Ministério da Defesa, onde chegou por uma portaria na garagem, Delgatti teria tido um encontro com o titular da pasta, o ministro Paulo Sérgio Nogueira, e conversado com um grupo que incluía o coronel Eduardo Gomes da Silva — oficial do Exército que não tem cargo na pasta. Silva é secretário especial de Modernização do Estado, vinculado à Secretaria-Geral da Presidência, e ficou conhecido em julho de 2021 ao aparecer ao lado de Bolsonaro na live em que o presidente lançou suspeitas contra as urnas, sem apresentar provas. Questionado por VEJA, o Ministério da Defesa não quis se pronunciar sobre o caso.