Armas de origem legal abastecem os crimes mais comuns, diz estudo
Pesquisa mostra que roubo e furto são a principal origem de armas de fogo usadas por bandidos com mais frequência
O afrouxamento das regras de posse e porte de armas no Brasil, feito por meio de decretos assinados pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), tem consequência direta nos crimes cometidos à mão armada. A origem das armas de fogo que são apreendidas com mais frequência pela polícias — pistolas usadas em assaltos e assassinatos — está principalmente no mercado legal. É o que apontam uma pesquisa do Instituto Sou Da Paz, que comparou os dados de boletins de ocorrência sobre furtos e roubos de armas com dados de apreensões, além de outros estudos na área de segurança pública que corroboram as mesmas conclusões.
Entre os cinco modelos de arma mais apreendidos no estado de São Paulo, que correspondem a mais da metade do total, a principal fonte de fornecimento é o mercado legal. Segundo o instituto, “em vários casos há uma correspondência quase espelhada” entre os tipos de armas que foram perdidas e aquelas que a polícia recupera. Os dados rebatem a percepção de que a origem das armas usadas por criminosos seja o contrabando de outros países — o que é mais comum no caso de armas mais longas, como rifles, fuzis e metralhadoras, embora o mercado legal também sirva como fonte para elas.
Empresas de segurança privada, repartições públicas e as próprias residências de colecionadores, atiradores e caçadores (os CACs) são, nessa ordem, os locais onde ocorrem com mais frequências os furtos e roubos que abastecem o crime, diz a pesquisa. Em geral, criminosos miram em lugares que concentram número maior de armas.
“Os casos analisados mostram que é comum que tão logo a arma seja retirada do proprietário legal, ela já comece a ser empregada no crime, às vezes no mesmo dia”, diz o texto do estudo “Desvio Fatal”. Entre os dados que contribuem para essa conclusão está o fato de que, em mais da metade das apreensões, as armas são recuperadas a uma distância de até 20 quilômetros do local do desvio e, em 32% dos casos, a menos de 10 quilômetros. Mais da metade dos casos em que as armas são recuperadas ocorre em até um ano após o dono comunicar que teve a arma furtada ou roubada.