Aborto: senador propõe emprego a autora de performance que irritou Pacheco
Eduardo Girão assumiu responsabilidade pelo texto interpretado por contadora de histórias e disse que ela poderia trabalhar em seu gabinete

Presidente da sessão temática de debate no Senado sobre a resolução do Conselho Federal de Medicina que proibiu a assistolia fetal — procedimento usado na interrupção da gravidez nos casos de aborto previsto em lei — em casos de probabilidade de sobrevida do nascituro, o senador Eduardo Girão (Novo-CE), ofereceu emprego em seu gabinete à contadora de histórias que, no plenário, fez uma performance declamando um texto em primeira pessoa sob o ponto de vista de um feto. A apresentação, feita nesta segunda-feira, 17, na abertura da sessão, foi alvo de críticas nas redes sociais e irritou o presidente da Casa, senador Rodrigo Pacheco (PSD-MG), que esperava uma discussão fundamentada em critérios técnicos.
Ainda durante a sessão, Girão criticou o que chamou de “ataques, censura, intimidação e perseguição” sofridas por senadores que defendem o Projeto de Lei 1.904/24, que equipara o aborto de feto com mais de 22 semanas de gestação ao crime de homicídio simples, e disse que a responsabilidade pelo texto interpretado pela contadora de histórias Nyedja Gennari é de seu gabinete. Durante cerca de cinco minutos, Nyedja narrou um texto fictício sobre um suposto feto no dia em que foi submetido ao procedimento de assistolia fetal.
“Nyedja, minha solidariedade. Todo roteiro que você fez na sua apresentação é de total responsabilidade de nosso gabinete. Você apenas apresentou”, afirmou o senador. “Você é uma contadora de histórias e eu quero dizer o seguinte: se acontecer alguma coisa com você, com intolerância, com perseguição, o nosso gabinete vai lhe contratar”, completou Girão, sob aplausos dos presentes. O senador não informou qual função em seu gabinete exerceria a contadora de histórias.
Debate sobre aborto
Durante toda a manhã e parte da tarde desta segunda-feira, parlamentares e especialistas em diversas áreas se intercalaram em defesa da resolução do CFM, do fim do procedimento e da aprovação do projeto de lei. A sessão foi proposta após a Câmara aprovar em votação simbólica, na semana passada, o regime de urgência do PL proposto pelo deputado Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), um dos expoentes da bancada evangélica.
O movimento reacendeu o debate sobre os parâmetros para a realização do aborto legal no Brasil e a liberdade da mulher sobre seu próprio corpo. O texto vem recebendo críticas porque propõe penalização à mulher que realize o procedimento após 22 semanas de gestação e prevê pena superior ao crime de estupro. Artistas e celebridades se manifestaram contra a proposta e milhares de pessoas foram às ruas neste final de semana em protesto contra o projeto.
Após a decisão na Câmara, Pacheco deu declarações públicas afirmando que, no Senado, o assunto jamais será enviado ao plenário sem passar por discussões profundas nas comissões temáticas. Entre as críticas que o senador fez à sessão desta segunda-feira foi a de ausência de contraditório na discussão.