A preocupação que assombrava Lula na cadeia virou realidade
No cárcere, o petista já fazia planos de retornar à política, pensando numa possível volta ao Palácio do Planalto

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tinha pouco o que fazer nos 580 dias que ficou atrás das grades, na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, preso pela Operação Lava Jato. Entre as atividades estavam receber visitas (duas a cada quinta-feira, além da visita regular de advogados), ler livros (o petista disse que leu mais de quarenta obras durante o cárcere), assistência religiosa (tinha uma hora às segundas-feiras para receber padres, pastores, rabinos etc), fazer exercícios físicos, conceder (pouquíssimas entrevistas) e ver muita TV.
Mas mesmo vendo televisão, Lula continuava exercendo a política. Uma de suas rotinas era assistir aos programas evangélicos que pululam nas emissoras abertas de televisão, em especial no período entre a noite e madrugada. Lula tinha o costume de anotar os nomes dos pastores e prestava muita atenção ao conteúdo das pregações, como ele mesmo relatou em encontro com lideranças evangélicas logo após ter saído da prisão.
O petista dizia a aliados que era preciso ficar atento ao que eles diziam, porque tinha a convicção que entendê-los seria fundamental para vencer qualquer eleição que se disputasse no Brasil, em especial a presidencial. Mesmo preso, o petista já pensava em retornar ao palco da política nacional e sabia que o seu sucesso dependeria de como se relacionaria com esse segmento do eleitorado.
Pois o que Lula imaginava está de fato acontecendo. Os evangélicos são hoje uma das principais preocupações da campanha do petista, porque a maioria desse eleitorado está com Jair Bolsonaro (PL) – segundo a última pesquisa Datafolha, o presidente tem 49% nesse segmento contra 32% do ex-presidente.
Apesar de Lula ter dedicado especial atenção aos pastores televisivos, o petista não conseguiu se aproximar das principais lideranças, hoje fechadas com Bolsonaro. A sua estratégia tem sido a de investir no discurso econômico, já que boa parte do eleitorado evangélico é das classes mais baixas e sente mais o efeito das crises, e em estratégias para rebater fake news e discursos em torno da pauta de costumes, como aborto e liberalização das drogas.
A preocupação que rondava Lula na cadeia ganhou forma fora dela.