A coletiva do Padilha, um desastre só comparável ao Plano Collor
Há 30 anos não víamos respostas tão confusas e incompletas dos governantes. Parece o filme dos anos 80: com um governo perdido e fraco, o Brasil regride
Há uns 30 anos não se via entrevista coletiva tão desastrosa como a de ontem à noite no Planalto, capitaneada pelo chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Repórteres, especialmente as da Bloomberg e da Reuters, bem que se esforçaram para entender o incompreensível. Fizeram as perguntas certas ao ministro certo.
Mas explicações tão enroladas quanto as de Eduardo Guardia (da Fazenda) são a senha para o jornalista: o governo também não faz a menor ideia do que está anunciando.
Foi assim no Plano Bresser, lá trás, em 1987. O ministro Luiz Carlos Bresser Pereira complicava suas explicações sobre vetores. Professoralmente, tentava dar por acabadas as dúvidas dos jornalistas a respeito daquilo que, aos olhos da imprensa, parecia ser principalmente mais um achatamento salarial decretado para coibir a inflação galopante.
Diante da insistência, um ministro aparentemente impaciente demonstrava irritação. Ao menos comigo foi assim. Sabe aquele sorrisinho da autoridade que quer dar a entender ao repórter que é burro?
Depois, em março de 1990, tivemos o histórico Plano Collor, cujas entrevistas passaram para os livros de jornalismo e que, em matéria de desastre, conseguiu superar a dos planos anteriores.
Não creio que, ontem, Eduardo Guardia tenha dado respostas confusas para omitir uma ou outra maquiagem das conta públicas.
O que temo é que, assim como nas crises dos anos 80, o governo, sem saber que rumo tomar, tenha feito tanta cerimônia por estar completamente perdido. E fraco, claro.
O que, neste momento, só reforça a impressão de que tudo pode piorar.