Reposição de testosterona: estudo traz algumas respostas e outras dúvidas
Pesquisa com homens em tratamento com o hormônio supre lacunas e provoca novos debates na área
Não é de hoje que o uso de testosterona provoca controvérsia entre a comunidade médica. E não apenas em função da aplicação para fins mais estéticos. Uma discussão eterna envolve o impacto no coração da prescrição a homens com deficiência desse hormônio.
É nesse contexto que saiu um importante estudo na prestigiada revista médica The New England Journal of Medicine. E, como era de esperar, ele já vem gerando burburinho no meio científico.
A pesquisa, batizada de TRAVERSE, veio em cheio tapar uma lacuna no conhecimento sobre a segurança cardiovascular da reposição de testosterona em homens com déficit desse hormônio. Ela avaliou os efeitos do uso de testosterona em gel em pessoas com idade de 45 a 80 anos que tinham deficiência comprovada de testosterona por exames e critérios clínicos.
Cerca de 48% dos pacientes tinham mais de 65 anos de idade e 55% apresentavam doença cardiovascular prévia, como infarto ou derrame cerebral. Vale destacar que 68% tinham diabetes e que a grande maioria estava acima do peso.
Foram incluídos cerca de 5 mil homens no experimento. Metade deles usou diariamente gel de testosterona a 1,62% na pele e outra metade usou gel com placebo (uma substância sem efeito terapêutico algum). O objetivo era manter os níveis de testosterona, que eram baixos, dentro das metas usuais (nada de superdosagem). E ver o que acontecia…
Após o seguimento mediano de cerca de 2 anos e meio, o estudo mostrou que quem usou testosterona em gel não teve aumento de risco de infarto, derrame e morte por causa cardiovascular.
Mas alguns pontos merecem atenção nessa história e vamos apontar a lupa para eles.
Temos que destacar que foram incluídos homens que tinham alto risco cardiovascular. E com exames laboratoriais e sintomas inequívocos de testosterona baixa. No seguimento, não houve diferença entre o grupo placebo e o grupo que usou testosterona na ocorrência de câncer ou de aumento benigno da próstata, nem na ocorrência de casos novos de diabetes.
Porém, dentre os pacientes que usaram reposição hormonal, houve um maior risco de fraturas, arritmias cardíacas e lesão renal aguda (mas em números absolutos pequenos). Estes efeitos adversos não eram esperados.
Em suma, o estudo TRAVERSE nos trouxe uma informação importante quanto à segurança cardiovascular da reposição de testosterona em gel, mas nos indica também que a prescrição do hormônio em homens adultos ou idosos com deficiência requer uma boa ponderação caso a caso quanto a prós e contras.
Respostas foram dadas e dúvidas levantadas…. É assim que caminha e evolui a medicina.
* Carlos Eduardo Barra Couri é endocrinologista, pesquisador da USP de Ribeirão Preto e idealizador e coordenador do Endodebate