Quando o álcool e a droga destroem uma família
Sempre que falamos sobre o problema da dependência química, obviamente, uma das primeiras coisas que vem à mente é o usuário de drogas. Porém, ele não é o único impactado por essa tragédia social. No âmbito familiar, para cada usuário de drogas existem mais quatro pessoas afetadas, em média, segundo dados do Instituto Nacional de […]

Sempre que falamos sobre o problema da dependência química, obviamente, uma das primeiras coisas que vem à mente é o usuário de drogas. Porém, ele não é o único impactado por essa tragédia social. No âmbito familiar, para cada usuário de drogas existem mais quatro pessoas afetadas, em média, segundo dados do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia para Políticas Públicas do Álcool e outras Drogas (Inpad), atingindo 28 milhões de brasileiros aproximadamente.
Pela minha experiência, reforçada por Maria de Fátima Padin, coautora deste texto, posso afirmar que o mais curioso é que a dimensão da consequência que o uso de drogas provoca no núcleo familiar é raramente abordada pela mídia e governantes, ou estudada por pesquisadores na proporção que deveria. A família, ao mesmo tempo em que é um dos pilares na luta contra a dependência química, é um dos grupos mais afetados por ela em diversos aspectos, necessitando de apoio específico.
Um dos maiores estudos feitos até o momento sobre o tema foi o Levantamento Nacional de Famílias dos Dependentes Químicos (Lenad Família), conduzido pelo Inpad. E os dados levantados são, no mínimo, preocupantes: 22% da população brasileira foi vítima de violência doméstica na infância, sendo que, em 20% dos casos, o abusador estava alcoolizado. A cocaína está associada a 31% dos casos de violência física na infância, enquanto a maconha está ligada a 12% das ocorrências do tipo.
Se hoje o Brasil infelizmente não dispõe de recursos e de uma política de drogas eficiente no que diz respeito à prevenção e tratamento para usuários, o que dizer então de iniciativas voltadas aos seus familiares? Os números acima mostram apenas parte do problema, e por si só já são alarmantes. Estamos falando de pessoas que necessitam de suporte para lidar com o uso de substâncias psicoativas por um pai, mãe ou filho, enfim, diminuindo as possibilidades de violência e desenvolvimento de transtornos emocionais, provocados pela situação.
Como mencionado antes: a família é um dos principais pilares na luta contra a dependência química e nossos governantes têm de prestar atenção nesse público específico, que, comumente não sabe lidar com tal circunstância. A qualificação de pessoas, para se comunicar assertivamente com seus parentes sobre drogas é crucial; porém nas metrópoles os programas públicos que oferecem esse tipo de recurso são escassos.
Um dos poucos que existem está em São Paulo e tem o objetivo de orientar e apoiar os familiares de dependentes químicos, oferecendo acesso a dados sobre tratamento, atendimentos individuais, além de terapia em grupo.
Para saber mais, acesse o site
https://www.programarecomeco.sp.gov.br)
Ainda segundo dados do Lenad Família, 8% da população foi exposta ao consumo de drogas ilícitas no ambiente familiar, o que, sem dúvidas, contribui para a preocupação com o modelo que nossas crianças estão vivenciando.
Aproximadamente metade dos jovens que têm entre 14 e 25 anos consome bebidas alcoólicas, número que passa a 26% entre menores de idade, de acordo com dados do Inpad. Já 36% dos jovens que informaram o consumo fazem uso nocivo do álcool semanalmente. Passando para as drogas ilícitas, a porcentagem da população jovem que afirmou ter usado maconha chega a quase 5%.
Quando analisamos o quadro por completo, vemos um problema complexo, porém, com solução. Parte dela deve começar na escola, com a aplicação de orientações sobre prevenção ao uso de substâncias e à violência, como parte do currículo escolar. Além disso, é fundamental propiciar às famílias orientações sobre como lidar com as drogas, principalmente às que tiverem integrantes usando substâncias psicoativas, Os pais são os melhores “agentes de prevenção” que temos. Isso é investir em prevenção e tratamento, que se caracteriza como uma das principais formas de combater o problema das drogas, evitando inclusive o encarceramento de usuários, que está longe de ser a solução.
Mas tais medidas só serão eficazes se os governos, em seus diversos âmbitos, adotarem políticas claras de prevenção. Do jeito que o debate é conduzido hoje, de forma improdutiva e sem ações concretas, continuaremos apostando em políticas que simplesmente não dão resultados. Agora, ações como a conscientização e educação da população sobre uso de substâncias psicoativas, aliadas à oferta de atendimento de qualidade contra a dependência química, essas sim, provocarão uma profunda mudança em nosso país.
Quem faz Letra de Médico
Adilson Costa, dermatologista
Adriana Vilarinho, dermatologista
Ana Claudia Arantes, geriatra
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Roberto Kalil – cardiologista
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Salmo Raskin, geneticista
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