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Precisamos de novos recursos para combater os tumores mais prevalentes

Acesso a métodos para diagnóstico precoce e tratamento mais assertivo é indispensável para enfrentar doenças como o câncer de próstata

Por Marcelo Bendhack*
Atualizado em 14 Maio 2024, 00h27 - Publicado em 5 jul 2023, 09h41

Pesquisadores, médicos e demais profissionais de saúde e a sociedade sabem há muito tempo que o câncer é um problema de saúde pública. Constantemente, acompanho os dados e os alertas emitidos pelo Globocan, do Instituto de Pesquisa do Câncer da Organização Mundial da Saúde (IARC/OMS). Com o passar dos anos, imaginava que a incidência e os óbitos diminuiriam. Infelizmente, ocorreu o contrário: a cada ano aumentam os casos e os óbitos.

Na última década, o Globocan tem se dedicado a apresentar a incidência, a mortalidade e a prevalência de 36 tipos de cânceres em 60 países. No meio do caminho tivemos uma pandemia, que represou e agravou a situação, sobretudo em relação a exames preventivos e diagnósticos.

Quando olhamos com lupa os dados, nos surpreendemos. Embora preveníveis, passíveis de serem diagnosticados precocemente e, em muitos casos, evitáveis, os cânceres de mama, próstata, pulmão, intestino grosso, reto (colorretal) e colo do útero continuam na lista dos mais incidentes.

Pior ainda: o câncer é a segundo maior causa de morte no mundo, com mais de 10 milhões de óbitos. Na última década, houve um aumento de 20% na incidência e a estimativa para 2030 é de 25 milhões de casos novos. No Brasil, são esperados 704 mil casos novos de câncer para o triênio 2023-2025.

Possíveis caminhos

Há um conceito interessante que diz que “menos é mais”. As interpretações podem ser diversas, mas para o cidadão que está preocupado com a sua saúde e de seus familiares, talvez seja o contrário: quanto mais, tanto melhor. Nesse sentido, mais acesso, mais disponibilidade de diagnósticos, de tratamentos, técnicas, recursos públicos e privados, tanto melhor para a saúde (da população) e para a saúde econômica dos países.

Nos levantamentos da Globocan, do Instituto Nacional de Câncer (INCA) e de outros órgãos nacionais e internacionais, as estatísticas excetuam o câncer de pele não melanoma. Assim, o câncer de mama feminino é o mais incidente na população brasileira, com 73 mil casos novos, enquanto para o câncer de próstata são estimados em 71 mil casos. Para o câncer de cólon e reto, a previsão é de 45 mil; pulmão, 32 mil; estômago, 21 mil, e câncer do colo do útero, 17 mil.

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Para incluir novas estratégias no combate ao câncer, as diversas campanhas de alerta são importantes, mas uma andorinha só não faz verão. A prevenção, a redução de risco e a conscientização são tão importantes quanto colocar à disposição da população todos os recursos, técnicas, procedimentos, novas tecnologias disponíveis.

+ LEIA TAMBÉM: Uma era de tratamentos menos agressivos contra o câncer

Lupa no câncer de próstata

Especificamente sobre o câncer de próstata, área para a qual tenho um olhar especial, e muitos anos de estudos e prática clínica, os números apontam que é o que mais acomete homens, representando aproximadamente 3 em cada 10 casos. Para este ano, são estimados 71.730 casos, segundo o INCA.

Para o diagnóstico dos tumores prostáticos, há políticas de rastreamento e exames consolidados há muitos anos pela medicina, como o conhecido PSA (Antígeno Prostático Específico) e o toque retal.

Quanto aos tratamentos, vale a pena pontuar que os mais convencionais para o câncer de próstata são a cirurgia (prostatectomia radical), indicada quando a doença tem a característica de ser restrita à próstata ou está localmente avançada e para os casos de elevado risco.

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O problema da cirurgia são os efeitos colaterais: os mais significativos são disfunção erétil e incontinência urinária. Outras alternativas de tratamento são a radioterapia, a crioterapia (criocirurgia ou crioablação), a hormonioterapia e a quimioterapia, indicadas com frequência nos casos avançados da doença.

Quanto mais, tanto melhor

Um dos métodos aplicados em vários países, inclusive em alguns hospitais públicos no Brasil, é o HIFU (sigla para High Intensity Focused Ultrassound, em português: ultrassom focalizado de alta intensidade). A técnica tem aprovação da Anvisa, no Brasil, do FDA, nos Estados Unidos, e é certificada pelo ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar do Japão.

Como alternativa, o HIFU é uma técnica que permite aplicar energia acústica (ultrassônica) em um ponto específico, gerando efeito direto do ultrassom e calor. O procedimento é usado no tratamento do câncer de próstata localizado, no primeiro diagnóstico ou recidivado.

Trata-se de uma terapia focal, um tratamento para o câncer de próstata em que apenas o tumor é tratado, em vez de toda a glândula da próstata, evitando que estruturas importantes localizadas ao redor da próstata sejam atingidas pelas ondas ultrassônicas, o que reduz os efeitos colaterais – índices de incontinência urinária em torno de 0 a 2% e para disfunção erétil de 5 a 7%, quando a aplicação é parcial ou focal. Quando total, o índice é próximo a 26%.

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Estamos em uma era que não desprezamos as técnicas e procedimentos já consolidados, aprovados, estudados e bem admitidos como recurso no combate ao câncer. Ao mesmo tempo, introduzimos no arsenal para os tratamentos novos procedimentos e técnicas, novas tecnologias e a inteligência artificial.

Certo é que o arsenal para debelar o câncer existe e é vasto. Falta ainda mais conscientização por parte da sociedade e também de algumas entidades e sociedades médicas, que precisam ficar atentas não só aos números de novos casos e óbitos, mas a algo que a população deseja com urgência: quanto mais acesso, mais diagnóstico precoce e mais formas de tratamentos (e cura), tanto melhor.

* Marcelo Bendhack é urologista e uro-oncologista e presidente da Associação Latino-americana de Uro-oncologia

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