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Por que o câncer de intestino em jovens tornou-se preocupação global

O caso da cantora Preta Gil, que morreu de câncer colorretal, expos uma condição que cresce no Brasil e no mundo: o aumento desse tipo de câncer

Por Gustavo Fernandes*
27 jul 2025, 08h00

Nosso sistema nervoso evoluiu para detectar ameaças e nos proteger. É por isso que, diante de notícias ruins, tendemos a reagir de forma mais intensa do que diante de boas notícias. A dor — física ou emocional — é um aviso. Quando o corpo dói, sinaliza que algo está errado. Quando uma perda coletiva, como a recente morte da cantora Preta Gil, nos abala, também recebemos um chamado: repensar, agir, prevenir.

A cantora Preta Gil, aos 50 anos, morreu de um câncer colorretal metastático, com evolução fulminante expondo uma condição
silenciosa que cresce no Brasil e no mundo: o aumento dos casos desse tipo de câncer em adultos jovens. Durante anos, a doença foi associada ao envelhecimento. Protocolos de rastreamento começavam aos 50 anos, e sintomas em pacientes de 30 ou 40 anos eram frequentemente minimizados. Hoje, a realidade é outra.

Dados apresentados no Congresso da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO 2025) mostram que os diagnósticos de
câncer colorretal em pessoas com menos de 50 anos crescem cerca de 2% ao ano (Truveta, ASCO 2025), já somando 12% de todos os novos casos nos EUA. No Brasil, segundo o INCA, este é o terceiro tipo de câncer mais comum, com 45 mil novos diagnósticos por ano previstos entre 2023 e 2025 (INCA).

Muitos desses jovens chegam aos consultórios com a doença em estágios avançados (III ou IV) (New York Post, ASCO 2025). São pessoas ativas, sem histórico médico relevante, que cuidam da alimentação e nunca imaginaram que dor abdominal, alteração no hábito intestinal ou cansaço poderiam ser sinais de algo tão grave. Por não estarem no “perfil típico”, passam meses sendo tratados como portadores de gastrite, síndrome do intestino irritável ou “estresse”, até que o diagnóstico — muitas vezes tardio — seja feito.

Ainda buscamos entender por que essa incidência cresce. Entre os fatores em estudo estão a alteração da microbiota intestinal (com destaque para a colibactina, toxina bacteriana que pode danificar o DNA, conforme estudo na Nature [3]), o uso frequente de antibióticos, a obesidade, o consumo de ultraprocessados, o sedentarismo e até a exposição a microplásticos. A genética, por si só, não explica essa mudança.

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Diferentemente do senso comum, estudos mostram que, excluindo casos hereditários, os tumores em jovens e adultos mais velhos têm perfis genômicos semelhantes. Ou seja: o câncer colorretal em jovens não parece ser biologicamente, mais agressivo. Mas, porque é diagnosticado mais tarde, frequentemente se apresenta de forma mais grave. Sem dúvida, doença que aparece mais cedo, impacta as vidas de forma mais contundente, é fato.

Por isso, a dor precisa virar ação concreta. Sinais não podem ser ignorados, em qualquer idade. Mesmo antes dos 45 anos — idade em que o rastreamento com colonoscopia já foi antecipado nos EUA e na nossa prática clínica —, sintomas como alteração do hábito intestinal, sangramento nas fezes, desconforto abdominal, dentre outros, devem motivar avaliação médica imediata. Campanhas de conscientização voltadas para os mais jovens, ampliação do acesso a exames simples (como o teste de sangue oculto nas fezes) e a revisão dos protocolos de rastreamento são urgentes.

Cada diagnóstico precoce representa não apenas uma chance maior de cura, mas uma vida inteira preservada e, em muitos casos, o futuro de famílias inteiras que dependem desses jovens. Que a dor coletiva da perda se transforme em alerta e ação. Porque prevenir e diagnosticar cedo não é apenas salvar vidas: é honrar as que se foram e proteger as que ainda podemos salvar.

*Gustavo Fernandes é vice-presidente de Oncologia da Rede Américas.

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