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O que as mudanças climáticas podem fazer com a nossa saúde mental

O medo de futuros desastres ambientais e a dúvida sobre o que está por vir causam ansiedade e desesperança, contribuindo para o sofrimento psíquico

Por Antonio E. Nardi e Jair Mari*
4 nov 2024, 17h00

A exploração predatória do planeta, orientada por uma ambição imediatista e negativista, ignora os efeitos devastadores de desrespeitar o meio ambiente. Certamente a destruição de florestas, a poluição de rios, mares e cidades, com alteração dos biomas, provocam grave desequilíbrio, que se reflete no aquecimento global, em secas e catástrofes. E, sim, tudo isso tem impacto na saúde humana.

O medo de futuros desastres relacionados ao clima e a dúvida sobre o que está por vir podem provocar ansiedade e desesperança, com aumento do risco de suicídio. Embora ainda não exista uma síndrome formalmente reconhecida, o termo “ecoansiedade” tem sido amplamente utilizado para descrever a angústia decorrente de preocupações com o meio ambiente e as mudanças climáticas.

As populações mais vulneráveis incluem crianças e adolescentes, que, por estarem em fase de desenvolvimento, não dispõem de mecanismos de enfrentamento adequados. E idosos, que podem ser mais suscetíveis devido ao risco de solidão, declínio físico e cognitivo.

Além desses grupos, aparecem as populações de baixa renda, que convivem com a perda de recursos financeiros e materiais em situações de vulnerabilidade nutricional e habitacional.

Para que os jovens lidem com a ameaça das mudanças climáticas, é essencial fornecer educação apropriada para a idade, incentivar a participação em projetos comunitários relacionados à sustentabilidade e à ação climática. E garantir o acesso a recursos de saúde mental, como aconselhamento e grupos de apoio, especificamente adaptados para lidar com a ansiedade e o estresse relacionados ao clima. Além de promover o engajamento em projetos focados em soluções climáticas.

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No caso dos idosos, é importante incentivar atividades e conexões sociais que fortaleçam o senso de comunidade e apoio, fornecer informações claras e acessíveis sobre as mudanças climáticas e seus potenciais impactos.

Como estratégias gerais para a comunidade, é necessário estimular atividades que conectem os indivíduos com a sociedade e com a natureza, promover um senso de comunidade e apoio entre as pessoas afetadas pelas mudanças climáticas, além de defender políticas que abordem tanto as mudanças climáticas quanto seus impactos na saúde mental.

Exemplo nítido e dramático do que já vivenciamos, a enchente no Rio Grande do Sul no primeiro semestre de 2024 foi catastrófica, sendo considerada um dos maiores desastres climáticos da história do estado.

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Outro desastre significativo no país foram os graves incêndios florestais, intensificados pela seca. Na Amazônia, os incêndios aumentaram exponencialmente, com quase 54 mil focos registrados até setembro, marcando o maior número em 14 anos.

O Pantanal enfrentou uma das piores temporadas de incêndios da história recente. Entre 1º e 27 de agosto de 2024, mais de 3.800 focos foram registrados, devastando a rica biodiversidade da região e causando graves prejuízos a inúmeras espécies.

A solidariedade é muitas vezes vista após o desastre. Mas podemos nos engajar e unir para também prevenir os desastres e os transtornos mentais que vêm em seu rastro.

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* Antonio E. Nardi é psiquiatra e professor titular do Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRJ, além de membro da Academia Nacional de Medicina e da Academia Brasileira de Ciências; Jair de Jesus Mari é psiquiatra, professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp e coordenador da Seção de Saúde Mental Urbana da Associação Mundial de Psiquiatria

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