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O peso invisível da DPOC no Brasil: urgência não pode mais ser ignorada

ANS avalia inclusão nos planos de saúde de uma inovação terapêutica para um perfil de pacientes que hoje não conta com um tratamento personalizado

Por Paulo Antônio de Morais Faleiros*
1 set 2025, 07h00

A Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) é como uma névoa persistente que sufoca não apenas os pulmões de quem a enfrenta, mas também a engrenagem da produtividade nacional. Silenciosa, progressiva e subdiagnosticada, essa condição respiratória vem drenando recursos humanos e financeiros no Brasil com uma força que não se vê, mas se sente: em hospitais, nas famílias e nas contas públicas.

Um estudo apresentado no ISPOR Europa2024 – principal conferência dedicada à discutir as tendências mais recentes em avaliação de valor em saúde, políticas públicas e inovação centradas no paciente – revelou que, entre 2014 e 2023, a DPOC gerou um impacto superior a R$ 1 bilhão no sistema previdenciário brasileiro, em relação aos novos benefícios cedidos neste período, sendo as aposentadorias precoces o principal catalisador desse custo: a condição foi responsável por menos de 20% dos novos benefícios concedidos por DPOC, porém foi responsável por mais de 55% dos gastos totais no Instituto Nacional do Seguro Social (INSS).

A maioria dos beneficiários são homens com idade média de 56 anos, em plena fase ativa. E o impacto não é homogêneo pelo país revelando desigualdades regionais que são reflexos de acesso à saúde, distribuição epidemiológica geográfica, condições de trabalho e políticas públicas.

Imagine uma linha de produção onde, de repente, milhares de operários são retirados antes do tempo, não por escolha, mas por falta de ar. Ainda segundo o estudo, publicado no Jornal Brasileiro de Economia da Saúde, a DPOC causou a perda de mais de 196 milhões de dias de trabalho, com impacto anual de R$ 230,7 bilhões em produtividade e até R$ 240 bilhões em perdas totais para o país.

O custo humano da doença é ainda mais profundo. A DPOC não apenas tira o fôlego, mas também a autonomia do paciente. Os sintomas mais comuns, como a tosse crônica, chiado e cansaço, são muitas vezes ignorados, até que se tornem incapacitantes. Segundo pesquisas recentes, mais de 90% dos pacientes e cuidadores sentem falta de informação sobre a DPOC, especialmente sobre o tratamento, 36% dos pacientes não sabem o que fazer durante uma exacerbação – ataque pulmonar geralmente associado a uma piora irreversível do quadro, comprometendo progressivamente a qualidade de vida – e apenas 18% dos cuidadores se consideram muito preparados para lidar com crises.

A maioria dos cuidadores é composta por mulheres acima dos 50 anos, sem formação na área da saúde — 73% não são profissionais formados, o que agrava o desafio do cuidado. Mais de 37% dos cuidadores de pacientes com DPOC abandonaram ou reduziram suas atividades profissionais para se dedicar integralmente ao cuidado, e quase 73% enfrentam impactos financeiros significativos por exercerem essa função sem remuneração.

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A DPOC impõe uma jornada longa e desafiadora aos pacientes e seus familiares, desde os primeiros sintomas até o diagnóstico preciso, passando por muitos estigmas, já que o principal fator de risco da doença é o tabagismo. O manejo adequado dessas crises é essencial para evitar hospitalizações recorrentes e perda funcional, o que reforça a necessidade de terapias mais eficazes e direcionadas.

Mas há luz no final desse túnel. A Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) avalia nesse momento a inclusão de uma inovação terapêutica para um perfil de pacientes que hoje não conta com um tratamento personalizado: aqueles com DPOC associada à inflamação tipo 2 — que afeta uma parcela pequena de pessoas, mas de forma mais severa com risco elevado de ataques pulmonares. Uma consulta pública está aberta e recebe contribuições até esta segunda-feira, 1º.

Infelizmente, a recomendação inicial da agência reguladora foi desfavorável à inclusão dessa nova terapia nos planos de saúde, decisão preocupante quando analisamos o contexto atual. A conexão entre a inflamação tipo 2 e a DPOC representa um avanço científico recente e transformador e abre caminho para uma nova era no tratamento da doença, mas sem acesso para quem precisa, não passa de uma promessa.

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A DPOC merece deixar de ser invisível aos olhos dos sistemas de saúde. Não se trata apenas de uma doença respiratória, mas de um problema social, econômico e humano. Ignorar esse fardo é condenar o Brasil a continuar respirando por aparelhos. É hora de transformar dados em ação, ciência em acesso e sofrimento em solução para milhares de pacientes.

*Paulo Antônio de Morais Faleiros é médico pneumologista especialista em DPOC e perito do INSS

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