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Nem herói, nem vilão: a verdade sobre o café e a saúde

Bebida pode fazer parte de uma rotina equilibrada, mas não deve ser usado como argumento para justificar exageros nem como “receita natural” contra doenças

Por Gustavo Lenci Marques*
4 nov 2025, 08h00

De tempos em tempos, o café aparece nas manchetes como herói ou vilão da saúde. Já foi acusado de causar câncer, de aumentar a pressão e de ser viciante. Pouco depois, ganha espaço em reportagens como protetor do coração, do fígado e até da longevidade. Afinal, onde está a verdade?

O café é, sem dúvida, uma das bebidas mais consumidas do mundo e um fenômeno cultural. Vai muito além da cafeína: contém centenas de compostos que interagem no nosso organismo, desde antioxidantes até substâncias que podem alterar o colesterol. Isso significa que seus efeitos não se resumem ao simples “acordar” depois de uma xícara.

A cafeína, seu principal ingrediente ativo, age bloqueando receptores de adenosina no cérebro, o que explica a sensação de alerta e a redução do cansaço. Esse efeito, porém, não é neutro: também pode aumentar níveis de adrenalina e afetar a liberação de insulina, interferindo no metabolismo da glicose e na resposta dos músculos. Ou seja, o mesmo café que ajuda na produtividade também mexe com hormônios importantes do corpo.

No sistema cardiovascular, o café tem uma relação ambígua. A cafeína pode elevar a pressão arterial no curto prazo, mas a tolerância tende a se desenvolver com o consumo regular. Já outros componentes, como os polifenóis, parecem ter efeito protetor. Por outro lado, em cafés preparados sem filtro — como na prensa francesa –, há substâncias que aumentam o colesterol.

O fígado é um dos órgãos que mais chamam atenção nos estudos. Pesquisas sugerem que o café pode reduzir o risco de fibrose e cirrose, provavelmente por efeitos sobre inflamação e metabolismo das gorduras. Mas aqui entra a ressalva: ainda não há clareza sobre até que ponto esses benefícios vêm da cafeína, dos polifenóis ou simplesmente de características de quem consome café.

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O impacto sobre o cérebro também é tema quente. Há estudos relacionando o café a menor risco de Parkinson e de depressão, mas nada disso é definitivo. O que sabemos com mais certeza é que, em excesso ou em horários inadequados, a cafeína atrapalha o sono, aumenta a ansiedade e pode levar a dependência leve, com sintomas de abstinência quando se tenta parar.

Na gestação, a cautela é maior. A cafeína atravessa a placenta e a metabolização é lenta no feto. Há indícios de que altas doses aumentam o risco de baixo peso ao nascer e até de perda gestacional. Por isso, organismos internacionais recomendam não ultrapassar o equivalente a duas xícaras de café ao dia nesse período.

O metabolismo do café varia de pessoa para pessoa. Fatores genéticos, uso de medicamentos e até o tabagismo mudam a velocidade com que o fígado processa a cafeína. Isso explica por que alguns tomam café à noite e dormem tranquilos, enquanto outros ficam em claro com uma única xícara pela manhã.

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O ponto central é que o café não deve ser tratado nem como vilão absoluto, nem como elixir da saúde. Ele pode fazer parte de uma rotina equilibrada, mas não deve ser usado como argumento para justificar exageros nem como “receita natural” contra doenças. O café é, antes de tudo, um prazer cultural e sensorial que merece ser apreciado com consciência. E não idolatrado ou demonizado.

*Gustavo Lenci Marques é médico cardiologista, pós-doutor em Ciências da Saúde, professor de Medicina da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR) e especialista da plataforma de Carreira Médica PUC-PR

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