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Mudanças na vacinação contra a pólio: por que substituir as gotinhas?

Ministério da Saúde anuncia atualização no esquema de imunização contra a poliomielite a partir de 2024. Especialista explica os motivos

Por Leonardo Weissmann*
Atualizado em 14 Maio 2024, 00h24 - Publicado em 7 jul 2023, 14h23

Um em cada 200 casos de poliomielite pode levar à paralisia irreversível dos braços e pernas, em crianças e adultos. Entre esses, 5% das vítimas morrem, porque os músculos respiratórios são afetados. Conhecida também como pólio, e antigamente chamada de “paralisia infantil”, essa doença é causada por um vírus e é altamente contagiosa.

Em 1988, num cenário com 350 mil casos anuais de pólio em 125 países, a Assembleia Mundial de Saúde aprovou uma resolução, lançando a Iniciativa Global de Erradicação da Pólio (GPEI, na sigla em inglês), liderada por governos nacionais, com seis importantes parceiros: a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Rotary International, os Centros de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC), o Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF), a Fundação Bill & Melinda Gates e a Aliança Mundial para Vacinas e Imunização (GAVI).

A partir daí, a incidência global da doença diminuiu mais de 99,9%. Ainda assim, há dois países endêmicos para o vírus selvagem: Afeganistão e Paquistão.

Atualmente, dois tipos de imunizantes são usados contra a pólio: a vacina injetável (VIP), criada por Jonas Salk, e a vacina oral (VOP), desenvolvida por Albert Sabin e que inspirou a criação do nosso símbolo, o “Zé Gotinha”.

O Brasil está livre da doença desde 1989. Porém, enquanto houver uma pessoa infectada no mundo, a vacinação não pode parar. Não podemos deixar a doença reemergir.

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Hoje, o Ministério da Saúde recomenda três doses da VIP, aos 2, 4 e 6 meses, e dois reforços com a VOP, aos 15 meses e 4 anos de idade.

Porém, a partir do próximo ano, os dois reforços com a vacina oral serão substituídos por um reforço aos 15 meses com a vacina injetável, conferindo proteção semelhante, em decisão referendada pela Câmara Técnica de Assessoramento em Imunização (CTAI). Essa é uma recomendação da OMS a países sem o vírus selvagem e já implantada em vários locais, com base em evidências científicas.

+ LEIA TAMBÉM: O que é a pólio e por que ela preocupa tanto?

As famosas gotinhas sempre foram uma poderosa ferramenta para o controle dos surtos de pólio em todo o mundo, interrompendo a cadeia de transmissão. Elas têm fácil administração (pela boca), alta efetividade e custo baixo.

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Mas são feitas com vírus vivos enfraquecidos e que podem sofrer mutações, depois de eliminados pelas fezes, com chance rara de paralisia naqueles não protegidos, que se infectam com água e alimentos contaminados. Isso acontece especialmente em áreas com baixa cobertura vacinal, falta de saneamento básico e elevada concentração populacional.

Já a VIP, com proteção acima de 90%, contém vírus inativados, que são incapazes de causar a doença depois.

Segundo a Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS), o risco de volta da pólio ao Brasil é muito alto, em decorrência da baixa cobertura vacinal e vigilância insuficiente. Reforçar a vacinação de rotina com a versão injetável é uma estratégia para eliminar de vez qualquer risco de paralisia pela circulação da forma modificada do vírus preexistente na vacina oral.

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Falta muito pouco para que tenhamos um mundo livre da poliomielite. Enquanto isso, o país precisa fazer a sua lição de casa.

* Leonardo Weissmann é infectologista do Instituto Emílio Ribas, consultor técnico da Comissão Nacional pela Erradicação da Pólio do Rotary International, diretor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e professor da Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP) – Campus Guarujá

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