Três em cada dez casos de câncer na mulher no Brasil são de mama. Em 2023, segundo o Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de mama será diagnosticado em 73 610 brasileiras, mais que a somatória dos casos femininos de câncer colorretal, colo do útero, pulmão e tireoide. Esta é também a maior causa de morte por câncer em mulheres no mundo inteiro. Foram 685 mil óbitos pela doença em 2020.
O diagnóstico precoce por meio do rastreamento com mamografia é uma das principais armas para reduzir a mortalidade pelo câncer de mama, bem como seus impactos na qualidade de vida e na sociedade.
O painel de especialistas que compõem a Força-Tarefa de Serviços Preventivos dos Estados Unidos (USPSTF, na sigla em inglês) publicou recentemente a atualização de suas recomendações para rastreamento de câncer de mama em território americano. Sugerem rastreamento mamográfico para todas as mulheres entre 40 e 74 anos, a cada dois anos.
É importante lembrar que essa recomendação não se aplica a pacientes com alto risco para desenvolvimento de câncer de mama, que podem ainda necessitar de rastreamento mais precoce ou com outros métodos complementares à mamografia.
A principal modificação em relação às recomendações anteriores da mesma entidade foi em relação ao início do rastreamento aos 40 anos, não mais aos 50. Para tanto, os médicos se basearam em trabalhos que demonstram benefício de redução da mortalidade por câncer de mama quando ela inclui a indicação na faixa dos 40 aos 49 anos.
No Brasil, o estudo AMAZONA demonstrou que 41% dos tumores mamários tratados em centros brasileiros são diagnosticados antes dos 50 anos, muitos deles apresentando estágio avançado.
Antes mesmo do novo documento da USPSTF, entidades dos Estados Unidos já recomendavam o rastreamento com mamografia a partir dos 40 anos, como a American Cancer Society (ACS), American College of Radiology (ACR) e National Comprehensive Cancer Network (NCCN). Além disso, apesar da Força-Tarefa ainda recomendar o rastreamento bianual, as outras instituições sinalizavam a favor do exame anual.
No Brasil, também temos recomendações diferentes para o rastreamento. O Colégio Brasileiro de Radiologia (CBR), a Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) e a Federação Brasileira das Sociedades de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo) indicam rastreamento mamográfico anual a partir dos 40 anos. No entanto, as recomendações do Ministério da Saúde indicam mamografia bianual a partir dos 50 anos.
Em nome da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO) e da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR), entidades que já se posicionavam a favor do rastreamento por mamografia anual a partir 40 anos, esperamos que, com a nova recomendação da Força-Tarefa americana e à luz dos dados nacionais, o governo brasileiro abra o debate para rever suas diretrizes e possibilite o rastreamento mamográfico para todas as mulheres no SUS a partir dessa faixa etária.
* Almir Bitencourt é radiologista do A.C. Camargo Cancer Center e da Dasa e membro da Sociedade Paulista de Radiologia e Diagnóstico por Imagem (SPR); Héber Salvador de Castro Ribeiro é cirurgião oncológico do A.C. Camargo Cancer Center e presidente da Sociedade Brasileira de Cirurgia Oncológica (SBCO); e Renato Cagnacci Neto é cirurgião oncológico e mastologista do A.C. Camargo Cancer Center