Mais de 70% das pessoas não relacionam diabetes a problemas no coração
No Dia Mundial do Diabetes, médica alerta para o impacto da condição, que afeta 16 milhões de brasileiros, no risco de doenças cardiovasculares
Os números são robustos: estima-se que pelo menos 422 milhões de adultos vivam com diabetes no mundo. No Brasil, são cerca de 16 milhões convivendo com a doença, o que deixa o país em sexto lugar no ranking de sua incidência.
O diabetes é uma doença crônica caracterizada pela incapacidade do pâncreas de produzir insulina suficiente para processar o açúcar no sangue. Uma vez não processado, o excesso prejudica a saúde, gerando danos nos vasos sanguíneos e aumentando a probabilidade de se formarem placas em artérias como as do coração.
Além disso, o diabetes potencializa outras condições, como pressão alta e colesterol elevado. Por isso, trata-se de um dos principais fatores de risco para enfermidades cardiovasculares, como infartos e acidente vascular cerebral (AVC). Ou seja: um inimigo a ser controlado.
Apesar de ser uma verdadeira bomba-relógio para nosso organismo, a conscientização sobre as sequelas do diabetes é insipiente. Pesquisa da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (Socesp) junto a 2 236 jovens, adultos e idosos nas cidades paulistas de Araçatuba, Araraquara, Bauru, Osasco, Ribeirão Preto, São Carlos, São José do Rio Preto, Sorocaba, Vale do Paraíba e na capital paulista constatou que 72% dos entrevistados não fazem nenhuma relação entre diabetes e doenças cardiovasculares, responsáveis por 400 mil óbitos todos os anos só no Brasil.
Mas a desinformação vai além: calcula-se que 40% dos portadores desconhecem que convivem com o problema, um desafio de saúde pública. A Socesp também verificou que 42,6% dos inqueridos sequer conseguem identificar os sintomas. Trata-se de uma patologia que surge e evolui sutilmente – sintomas, quando existem, englobam fome e sede constantes; vontade de urinar acima do normal; fraqueza; fadiga e mudança de humor. Porém, ao progredir, pode comprometer coração, cérebro e retina, por exemplo.
Assim, torna-se fundamental a investigação periódica, por meio des exame de análise clínica. Atuar de modo preventivo é especialmente bem-vindo em termos de proteção cardiovascular. Os indivíduos com diabetes têm entre duas e três vezes mais chances de desenvolver problemas como infarto e AVC. As complicações cardiovasculares são responsáveis por 68% das mortes entre pessoas com diabetes acima de 65 anos.
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A pesquisa da Socesp nas cidades do interior e na capital ainda apurou que 63% não citaram a obesidade, 55% não mencionaram a má alimentação e 66% não cogitaram a inatividade física como fatores de risco para o coração e, consequentemente, gatilhos para o diabetes. Porém, a preocupação com o peso deveria estar presente, pois 95% dos acometidos estão com o tipo 2 da doença, mais frequente em obesos acima dos 40 anos e a que mais causa danos cardíacos.
Além disso, 41% dos consultados não sabem ou nunca calcularam o próprio IMC (Índice de Massa Corpórea), divisão do peso (em quilos) pela altura elevada ao quadrado. O resultado mostra se a pessoa está obesa, com sobrepeso ou dentro do parâmetro.
O levantamento da Socesp deixa claro que a maioria não entende os perigos que o comer de forma desregrada representa: 66% consomem açúcar regularmente e 74% têm pães e outros derivados do trigo no cardápio diário. Enquanto estes hábitos abrem portas para o diabetes e demais comprometimentos cardiovasculares, um estilo de vida saudável restringe o aparecimento dos males que comprometem o coração.
Isso inclui dieta balanceada rica em frutas, hortaliças (legumes e verduras), grãos integrais, produtos como leites e derivados desnatados, praticar atividades físicas diárias, manter um peso ideal e fazer check-up periodicamente para investigar doenças traiçoeiras que demoram a dar as caras.
Em 14 de novembro, temos o Dia Mundial do Diabetes. A data foi escolhida em homenagem ao aniversário do codescobridor da insulina humana sintética, Sir Frederick Banting (1891-1941). A insulina é um hormônio responsável por controlar o nível de glicose no sangue, mas cuja reposição só é indicada em casos avançados, quando a mudança na rotina e outros remédios não são suficientes para o controle glicêmico.
Precisamos divulgar essa causa e sensibilizar a sociedade sobre os perigos do diabetes. Só com iniciativas assim podemos minimizar o gosto amargo que a doença pode causar.
* Viviane Zorzanelli Rocha é cardiologista do Instituto do Coração (InCor) e do Grupo Fleury e assessora científica da Socesp (Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo)