Entre o laboratório e o paciente: o papel da patologia em um hospital
Profissional tem contribuição decisiva para o diagnóstico de doenças e atua nas tomadas de decisões ao longo da jornada do paciente
No último dia 5 de agosto foi comemorado o dia do patologista, mas o que fazemos dentro de um hospital? O patologista é um médico pouco conhecido para a população geral, mas de fundamental importância: em vez do estetoscópio, examinamos os pacientes a partir do microscópio, vendo detalhes que não são visíveis para a maioria das pessoas.
Nossa especialidade é reconhecida por sua contribuição decisiva para o diagnóstico das doenças a partir do estudo macro e microscópico das amostras de tecidos (ou seja, dos materiais obtidos a partir de punções, biópsias ou por cirurgia), sempre orientando clínicos e cirurgiões em suas condutas. Talvez você nunca tenha se consultado com um patologista, mas já foi indiretamente “atendido” com um laudo de biópsia gástrica, uma punção de tireoide ou um Papanicolau de rotina, entre diversos exames que podem ter feito diferença na sua vida.
Antes “escondidos” em laboratórios, agora estamos circulando cada vez mais nos corredores dos hospitais: consolidando uma atuação moderna e mais dedicada dos patologistas no cuidado multidisciplinar e personalizado ao paciente, participando diretamente das tomadas de decisões ao longo da jornada do paciente.
A medicina de precisão busca adicionar detalhes individualizados ao diagnóstico apresentado para cada paciente no intuito de tornar mais específico o seu tratamento: a integração do patologista com clínicos, cirurgiões, radiologistas e endoscopistas acelera as conclusões diagnósticas, permitindo tratamento cirúrgico ou clínico mais rápido e mais preciso.
Nos exames de imagem, a participação do patologista também ajuda os radiologistas intervencionistas durante o procedimento de biópsia, orientando se a lesão-alvo foi atingida ou se há necessidade de repetição do procedimento. Esta prática recente tem permitido o diagnóstico integrado radiológico-patológico e propiciado a colheita de amostras para exames microbiológicos ou mesmo análises moleculares de neoplasias.
Durante a avaliação intraoperatória (também chamado de “exame de congelação”), o patologista consegue orientar o cirurgião quanto ao diagnóstico e se todo o tumor foi retirado (se a “margens” estão livres), tudo isso enquanto a cirurgia está acontecendo, com resultado imediato. Essas medidas têm grande impacto no cuidado do paciente: um diagnóstico mais rápido e preciso, com menos tempo de internação e menos riscos pós-operatórios.
Na oncologia, cada vez mais é valorizada a atuação multidisciplinar, principalmente nos boards, que são reuniões com todos os profissionais envolvidos no cuidado ao paciente (clínicos, cirurgiões, radiologistas, patologistas, enfermeiros, entre outros), onde cada caso é discutido com todos, balizando a melhor definição de estratégias para o tratamento. A participação dos patologistas nesse debate é fundamental, com discussão de diagnósticos, auxílio na interpretação dos laudos e das hipóteses diagnósticas, correlação com dados de imagem.
Até recentemente, “protocolos fechados / guidelines” eram aplicados de modo rígido em todos os pacientes com determinada doença. Conseguimos agora, avaliar biomarcadores, características morfológicas ou moleculares da neoplasia que podem indicar, por exemplo, se esta será mais ou menos agressiva, ou se pode responder a uma medicação específica. O arsenal à disposição da equipe é amplo. Vai desde características microscópicas do câncer até mesmo a proteínas que ele expressa ou alterações genéticas específicas, de forma que cada paciente recebe diagnóstico e tratamento totalmente personalizados.
Na medicina do futuro, que em muitos hospitais já é a medicina do presente, o patologista passa a exercer importante protagonismo na equipe multidisciplinar, pilar integrador das especialidades responsáveis pelo diagnóstico com aquelas dedicadas ao tratamento, resultando em maior celeridade e especificidade nas intervenções médicas nas mais diferentes doenças.
* Venancio Avancini Ferreira Alves, Evandro Sobroza de Mello e André Bubna Hirayama são patologistas do Hospital Alemão Oswaldo Cruz