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Derrubando mitos sobre o TDAH: um chamado à conscientização e à inclusão

Às vésperas do dia mundial de conscientização sobre o transtorno, neurologista explica por que uma abordagem mais precisa e compassiva faz a diferença

Por Renato Arruda*
12 jul 2024, 08h00

Assunto em alta dentro e fora das redes sociais, o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH) é uma condição neurobiológica bastante comum na nossa sociedade, mas ainda carregada de mitos e preconceitos.

Atualmente, estima-se que mais de 2 milhões de crianças e adolescentes brasileiros tenham TDAH, sendo o transtorno neuropsiquiátrico mais frequente nessa faixa etária. Enquanto nas crianças e adolescentes a prevalência estimada é ao redor de 5%, nos adultos cerca de 3% também sofrem do transtorno.

Trata-se de uma condição com grande impacto psicológico e social, pois o TDAH é um transtorno do neurodesenvolvimento que causa prejuízos significativos em diversos contextos de vida – acadêmico, profissional, social, familiar, pessoal.

O Dia Mundial de Conscientização e Sensibilização sobre o TDAH, celebrado todo dia 13 de julho, foi criado para combater estigmas e fornecer conhecimento baseado em evidências às pessoas com esse transtorno, reconhecendo que a educação e informação são fundamentais para melhorar suas vidas.

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Entre os maiores obstáculos enfrentados por quem tem a condição estão os preconceitos e mitos arraigados na sociedade. Listo e desfaço cinco deles a seguir:

1. “TDAH é causado por má educação ou pais negligentes”: trata-se de uma condição neurobiológica de causa multifatorial e importante substrato genético. Fatores de risco ambientais podem influenciar, mas não são a causa direta. E, por melhor que seja, não existe mãe ou pai capaz de impedir a manifestação do transtorno.

2. “Todos com TDAH são hiperativos”: nem todas as pessoas com TDAH apresentam sintomas de hiperatividade. Existem três principais subtipos de apresentação – predominantemente desatento, predominantemente hiperativo-impulsivo e o combinado.

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3. “Pessoas com TDAH são menos inteligentes”: o TDAH não está relacionado com a inteligência. A maioria dos pacientes tem quociente de inteligência preservado dentro da média. Muitas pessoas apresentam habilidades intelectuais e criativas excelentes, e por vezes, até acima da média (o que configura dupla excepcionalidade: TDAH com altas habilidades).

4. “Medicação é a única forma de tratamento”: “: o tratamento do TDAH é multidimensional e interdisciplinar. As medicações – quando bem indicadas – são importantes sim, mas outras abordagens não farmacológicas também apresentam evidências científicas robustas e são complementares aos remédios. Elas incluem terapia comportamental, treinamento de habilidades sociais, planos educacionais individualizados, ajustes nos ambientes acadêmico e profissional, orientação parental e psicoeducação.

5. “Pessoas com TDAH simplesmente precisam tentar se concentrar”: o trastorno traz um desequilíbrio de neurotransmissores (substâncias que “ligam e desligam” circuitos cerebrais), trazendo dificuldades em habilidades como controle inibitório e regulação emocional. Portanto, não se trata, simplesmente, de “esforçar-se mais”.

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Desmistificar esses mitos é crucial para promover uma compreensão mais precisa e compassiva do TDAH, permitindo que pessoas acometidas recebam o tratamento necessário para gerenciar sua condição de maneira mais eficaz.

Além dos sintomas principais, pessoas com TDAH, frequentemente, apresentam comorbidades, tais como autismo, transtornos de aprendizagem, transtorno de oposição desafiante, transtorno de conduta, distúrbios do sono, ansiedade, depressão, entre outros.

O diagnóstico correto e precoce é fundamental para iniciar o tratamento adequado, que deve ser realizado por meio de intervenções multidisciplinares, envolvendo a criança ou adolescente, sua família, a escola, professores, psicopedagogos e profissionais de saúde como médico, psicólogo, terapeuta ocupacional e fonoaudiólogo.

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Essa abordagem integrada permite uma avaliação completa dos pontos fracos e fortes do indivíduo, traçando um “mapa” de suas necessidades individuais e desenvolvendo um plano de intervenção personalizado, visando maximizar o potencial e desenvolvimento do indivíduo.

É primordial que todos os profissionais de saúde e educação estejam bem-informados e se mantenham constantemente atualizados sobre os avanços da neurociência. Não se trata mais de uma condição isolada. É imperativo que tal transtorno seja visto, reconhecido e adequadamente tratado dentro e fora de casa.

Participar de congressos especializados, especialmente aqueles que incentivam o olhar multidisciplinar, é uma das melhores formas de garantir que estejamos preparados para oferecer um cuidado integrado, abrangente e, sobretudo, eficaz – aquele que as crianças e adolescentes com TDAH precisam e merecem.

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É hora de refletir sobre como podemos melhorar o suporte às pessoas com o transtorno. A educação continuada, o combate ao preconceito e o fortalecimento das redes de apoio são passos fundamentais para construirmos uma sociedade mais inclusiva e empática.

* Renato Arruda é neurologista, especialista em neurodesenvolvimento e organizador do Congresso Aprender Criança

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