Como sair do entorpecimento emocional causado pelo estresse
Representado pela falta de entusiasmo, apatia, indiferença, cansaço persistente e letargia, o estado impede a pessoa de reagir
Uma das fotos mais icônicas de toda história do fotojornalismo foi tirada em 1968, no Vietnam, pelo premiado fotógrafo de guerra Don McCullin. Essa foto mostra um soldado americano de olhar petrificado e indiferente a tudo e a todos à sua volta. Pelo relato do fotógrafo, sabemos que aquele soldado não reagia a nada, mantinha seus olhos fixados em um horizonte inexistente. Estar em meio a um campo de guerra, contraditoriamente ao esperado, não lhe trazia qualquer reação.
O que se espera diante de uma situação de estresse é que nosso corpo e nossa mente reajam ao estímulo estressor a fim de atacá-lo ou de livrar-se dele. Todos nós estamos em vida expostos a situações de estresse cotidianamente e precisamos formular a melhor resposta para superá-las; seja enfrentando-as, seja evitando-as. Porém, em situações de estresse extremo, pode-se desenvolver um tipo de resposta inapropriada, onde o ”bater ou correr” é substituído pelo ”congelar”. Ao invés de o indivíduo tomar uma decisão sobre o agente estressor e seguir em diante, ele passa a conviver e reagir cronicamente a ele. A este quadro dá-se o nome de Transtorno do Estresse Pós-Traumático – TEPT.
Experiências claras de risco iminente à própria vida como a vivência de uma guerra, ter sua casa arrastada pela enchente ou sofrer um assalto a mão armada são todas situações emblemáticas para o surgimento de TEPT. Todavia, sabemos que o estresse vivenciado cotidianamente e, cada dia mais compartilhado por uma sociedade interconectada também traz impactos psíquicos negativos. O cenário político, o caos urbano, a experiência de uma pandemia, a guerra em um outro continente; tudo é apresentado reforçando a ideia de incerteza sobre o futuro e insegurança com a própria integridade. São situações que estimulam continuamente o indivíduo a manter-se em estado de alerta diante de variáveis sobre as quais não há controle. Além da sensação de impotência, de preocupação e temor que este tipo vivência evoca, observa-se o surgimento de um tipo inesperado de reação: o entorpecimento emocional; representado pela falta de entusiasmo e interesse pela vida, pela sensação de apatia e indiferença, pelo cansaço persistente e letargia. O indivíduo é exposto de tal maneira a um Mundo ameaçador que deixa de reagir quando um evento estressor real lhe é apresentado.
O curioso é que, ao contrário do que o senso comum sugere, o Mundo hoje mostra ser um lugar mais seguro, saudável e promissor do que qualquer outro momento da história humana. A expectativa de vida foi triplicada nos últimos duzentos anos, reduziu-se de forma continuada ao longo dos séculos o número de mortes violentas, avançou-se drasticamente no domínio da Natureza pela ciência. É a vivência magnificada do tempo presente que cria a falsa sensação de que o homem caminha para um período de trevas e desesperança.
Para lidar com este tipo de viés cognitivo há duas importantes atitudes a serem assumidas: a primeira é buscar fontes de informação seguras e confiáveis; em tempos de redes sociais é fundamental reforçar como uma notícia não se torna mais verdade apenas por ser muito compartilhada. A segunda medida a ser tomada é buscar ampliar o olhar sobre o Mundo. É necessário viver sobre toda a temporalidade da vida, como disse Saramago em seu livro A Caverna ”…o tempo é o melhor mestre de cerimônias…”, volte sua atenção para o cuidado com seu corpo e com suas relações pessoais. Não deixe de viver o aqui-agora. A melhor maneira de lidar com um problema é analisando-o pela experiência do passado, reconhecendo suas particularidades no tempo presente e mantendo o olhar atento às expectativas do futuro.