Como cuidar do coração dos pacientes do SUS
Há programas governamentais de distribuição de remédios gratuitos. Mas eles são eficazes e ministrados corretamente?

Checkup anual, exames clínicos de rotina e controle da pressão e do colesterol, além de alimentação saudável e atividade física. Quem segue esta receita traz para o médico o “melhor dos mundos”: estará fazendo a lição de casa da prevenção, medida profilática que ganha cada vez mais força na medicina, especialmente, na cardiologia. Isso porque a grande maioria das doenças cardiovasculares – que vitimam 400 mil pessoas por ano só no Brasil, segundo dados da SOCESP – Sociedade de Cardiologia do estado de São Paulo – poderiam ser evitadas se um protocolo preventivo fosse acatado.
Mas se já é difícil fazer com que aqueles que têm planos privados sigam as recomendações, na maioria, das vezes com mais acesso à educação, que dizer dos que dependem do sistema público para cuidar da saúde? Para que a prevenção cardiovascular seja disseminada, principalmente entre famílias de baixa renda, iniciativas simples, aliadas a políticas públicas, devem ser implementadas. Atualmente mais de 70% da população – cerca de 150 milhões de pessoas – são atendidas pelo SUS.
O primeiro passo para um coração saudável é uma vida saudável. Por isso, fatores como saneamento básico, menos poluição e acesso à educação formam um cenário que afasta uma série de doenças, incluindo as cardíacas. Na outra ponta, é necessário descentralizar ações preventivas, como aferição de pressão arterial e coleta de histórico do paciente, incumbindo outros profissionais de saúde, como enfermeiros e auxiliares, para essas funções. O procedimento desonera o médico, deixando que ele se concentre na tomada de decisão, ampliando a capacidade de atendimento.
Também seria vital contar com protocolos que orientassem quanto à necessidade de tomar os remédios de maneira correta e sem interrupções. A falta de sintomas da maioria das doenças cardiovasculares leva à descontinuidade, o que pode agravar o quadro. É fato que já contamos com programas governamentais de distribuição de remédios gratuitos. Mas é importante saber: são eficazes? Ministrados corretamente? Os beneficiados voltam para buscar nova remessa? Os dados deste censo contribuiriam para aferir a eficácia do tratamento ou traçar novas diretrizes.
Um completo e amplo programa de atendimento, acompanhamento e educação das doenças cardiovasculares entre aqueles atendidos pelo SUS pode impactar nos índices de forma surpreendente e reduzir mortes por doenças cardiovasculares por meio do controle do colesterol elevado, diabetes e pressão arterial, passando pelas orientações sobre prática regular de atividade física e mais qualidade de vida com alimentação equilibrada evitando o álcool, tabaco e estresse.
Para chegarmos lá, precisamos aferir o maior número de dados e informações possíveis para depois de tabulados usarmos inteligência para saber onde possamos ser mais eficientes e auxiliar a população mais necessitada. Somente assim conseguiremos mudar, de forma definitiva, o atual cenário da doença cardiovascular no Brasil.
Artigo escrito em colaboração do cardiologista Marcus Vinicius Bolivar Malachias, governador do Brazil Chapter do American College of Cardiology (2020-22) e professor adjunto da Disciplina de Clínica Médica da Faculdade Ciências Médicas de Minas Gerais/Fundação Educacional Lucas Machado – Belo Horizonte (MG).
