Como a inteligência artificial pode ajudar no tratamento do diabetes?
Análise preditiva e ferramentas para prevenir complicações são avanços comemorados pela comunidade médica no combate à doença

Na medicina, a Inteligência Artificial (IA) vem emergindo como uma força transformadora, em especial no tratamento do diabetes. Com a crescente prevalência dessa doença crônica, as soluções baseadas em IA assumem um papel cada vez mais proeminente porque oferecem esperança e eficácia no gerenciamento dessa condição complexa.
O diabetes, caracterizado por níveis elevados de glicose no sangue, requer acompanhamento e tratamento meticulosos para evitar complicações. Tradicionalmente, o controle da glicemia exige monitoramento frequente e intervenções baseadas em protocolos médicos padrão, mas graças aos avanços na IA, os médicos agora têm acesso a ferramentas que podem personalizar o tratamento, otimizando resultados e trazendo mais qualidade de vida ao paciente.
Uma das principais aplicações da IA é a análise preditiva. Algoritmos podem processar grandes volumes de dados, como históricos médicos, dados genéticos, hábitos de vida, microbiota intestinal e padrões de glicose para prever flutuações nos níveis de açúcar no sangue antes mesmo de ocorrerem. Essa capacidade de previsão permite intervenções proativas, como ajustes na medicação ou no estilo de vida. Além disso, a IA está revolucionando o monitoramento da glicose. Dispositivos conectados, como sensores contínuos de glicose e aplicativos móveis, possibilitam um monitoramento em tempo real.
Instrumentos modernos
As novas ferramentas que empregam IA também contribuem para prevenir complicações graves do diabetes: a detecção da retinopatia, uma grave doença ocular que pode levar à perda da visão, por exemplo, já pode ser feita por sistemas automáticos que analisam fotografias do fundo do olho. De maneira análoga, foram desenvolvidos para avaliar feridas nos pés, já que o diabetes figura entre as principais causas de amputações em nosso país.
Pessoas podem apresentar diabetes sem saber, mas quanto antes a doença for detectada, maiores as chances de uma vida saudável. Nesta linha, temos recursos que envolvem IA e que podem auxiliar nessa descoberta: instrumentos como o How Voice podem identificar o diabetes por meio da análise da voz do paciente. Essa tecnologia inovadora oferece um método de triagem rápido, acessível e não invasivo.
Já ferramentas de IA, como chatbots e assistentes virtuais, oferecem suporte e orientação individualizada aos pacientes sobre diabetes, estilo de vida saudável e autocuidado. Adicionalmente, a IA pode auxiliar na tomada de decisões práticas pela pessoa com diabetes, e assim poupar um tempo importante a cada dia, como o cálculo da composição nutricional de uma refeição por meio da fotografia do prato. Da mesma forma, tais algoritmos integrados em sistemas de prontuários eletrônicos podem economizar um tempo precioso dos médicos, que se reverte em maior integração desses profissionais com os pacientes, a fim de fornecer orientações e tirar dúvidas no atendimento.
Desafios pela frente
Há desafios, porém, que devemos levar em conta: é importante garantir que as tecnologias sejam acessíveis a todos. Além disso, a segurança e a privacidade dos dados são fundamentais e, portanto, é crucial garantir que os sistemas de IA sejam robustos e protejam as informações confidenciais dos pacientes. Outro desafio é a integração das tecnologias de IA com os sistemas de saúde, ponto essencial para garantir a sua efetividade e adoção em larga escala (interoperabilidade).
Abordar esses desafios requer colaboração entre pesquisadores, profissionais de saúde, reguladores e outros interessados para garantir que a IA seja usada de forma ética, segura e eficaz no tratamento do diabetes. Por isso a Sociedade Brasileira de Diabetes atua para se tornar protagonista neste debate sobre o desenvolvimento e implementação da IA na Diabetologia e também com o objetivo de contribuir para que toda a sociedade possa desfrutar dos ganhos potenciais das novas ferramentas, sempre com responsabilidade e rigor científico.
*Marcio Krakauer é endocrinologista, coordenador do Departamento de Saúde Digital, Telemedicina e Inovação em Diabetes da Sociedade Brasileira de Diabetes, e Fernando Malerbi, oftalmologista, coordenador do Departamento de Saúde Ocular da entidade