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Combate ao crescimento de bactérias super-resistentes é urgente

Até 2050, as mortes causadas por infecções poderão superar os óbitos por câncer; controle criterioso do uso de antibióticos é essencial

Por Andre Mario Doi*
16 ago 2024, 08h00

Um estudo recente da Associação Fundo de Incentivo à Pesquisa (Afip) aponta para um aumento na presença de bactérias super-resistentes em hospitais brasileiros. De acordo com a pesquisa, 6,5% das 71.064 amostras coletadas em unidades de saúde em 2023 testaram positivo para microrganismos resistentes a antibióticos, um aumento em relação aos 6% de positividade registrados em 2022, quando foram analisadas 58.065 culturas de vigilância. Estes dados foram apresentados no congresso da Associação para Diagnósticos e Medicina Laboratorial (ADLM), realizado em Chicago, no início de agosto.

Além do crescimento na taxa de positividade, o estudo revelou uma mudança significativa no perfil das bactérias identificadas. Em 2022, as espécies do gênero Klebsiella representaram 60,5% das amostras positivas, seguidas por Enterococcus (16%) e Acinetobacter (13,6%). No entanto, em 2023, Klebsiella correspondia a 53,1% das amostras positivas, enquanto Acinetobacter saltou para 24,1% e Enterococcus caiu para 10%.

Diversos fatores contribuem para esse aumento. Um dos principais é o uso indiscriminado de antimicrobianos, tanto dentro dos hospitais quanto na comunidade em geral. Prescrições desnecessárias, como o uso de antibióticos para tratar infecções virais e o uso empírico de antibióticos sem a devida orientação por culturas e testes de sensibilidade são práticas que aceleram o desenvolvimento de resistência.

Outro fator relevante é a crescente mobilidade social, que facilita a disseminação de genes de resistência, como já observado em estudos sobre esgotos de aviões. Além disso, o uso indiscriminado de antibióticos na agropecuária – em animais como aves, bovinos, suínos e até mesmo em peixes e animais domésticos – também contribui para o agravamento do problema.

A capacidade das bactérias de desenvolverem resistência, seja por “pressão seletiva”, aquisição de genes resistentes ou mutações genéticas, supera em muito o ritmo de descoberta de novos antimicrobianos. Essa disparidade é preocupante, pois, segundo estudos, até 2050, as mortes causadas por infecções provocadas por bactérias multirresistentes poderão superar os óbitos por câncer.

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As consequências são substanciais. Para os pacientes, isso pode significar um aumento na mortalidade, mais tempo de internação e complicações secundárias mais graves. Para o sistema de saúde, o impacto é sentido no aumento dos custos, seja pela necessidade de usar antibióticos mais potentes e modernos, seja pelo prolongamento das internações.

Os laboratórios de microbiologia enfrentam desafios como a falta de recursos, baixa remuneração dos exames e a escassez de profissionais especializados, o que dificulta a identificação e o monitoramento dessas bactérias, comprometendo a eficácia no combate a essa crescente ameaça.

Diante desse cenário, é essencial fortalecer as medidas de controle e prevenção nos hospitais brasileiros, como as implementadas pelos Serviços de Controle de Infecção Hospitalar, que incluem a higiene rigorosa das mãos, uso de luvas, isolamento de pacientes e controle de ambientes cirúrgicos. Além disso, o controle criterioso do uso de antibióticos de amplo espectro e a adoção de terapias baseadas em exames de cultura e testes de sensibilidade são cruciais.

*Andre Mario Doi é médico patologista clínico e diretor científico da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica e Medicina Laboratorial (SBPC/ML)

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