Câncer de mama: por que o controle de peso impacta na doença
O sobrepeso provoca um estado de inflamação crônica no corpo, mecanismo que contribui para o crescimento desordenado das células
A relação entre a Obesidade e o Câncer de Mama – Por que o controle do peso e a manutenção de hábitos saudáveis são fatores importantes no combate à doença
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2,3 bilhões de pessoas estão com sobrepeso ou obesas. A obesidade atingiu proporções epidêmicas em todo o mundo e contribui para maior prevalência de vários tipos de câncer, dentre eles o tumor de mama.
O excesso de peso provoca um estado de inflamação crônica no corpo. Isso ocorre porque o sistema imune se prepara para conter o excesso de gordura. O problema, no entanto, é que esse mecanismo do sistema de defesa do corpo também pode atacar células saudáveis, contribuindo para um crescimento celular desordenado. Ou seja, o câncer.
Além da inflamação crônica, outros processos biológicos explicam a relação entre obesidade e neoplasias: o aumento da secreção de substâncias pró-inflamatórias; o aumento de vasos sanguíneos – utilizados pelos tumores para receberem oxigênio e nutrientes; a mudança na microbiota intestinal e maior secreção de insulina – fatores inflamatórios que podem favorecer a proliferação de células cancerígenas; e elevação dos níveis de hormônios sexuais como o estrogênio, que está associado a maior número de casos de neoplasia.
Apesar de todas essas evidências, no entanto, são poucos os brasileiros que conhecem a relação entre as duas condições. Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica mostrou que uma em cada quatro pessoas desconhecia a relação entre câncer e sobrepeso.
Obesidade e Câncer de Mama
O risco de câncer de mama aumenta em mulheres na pós-menopausa com obesidade ou diabetes, condições associadas à resistência à insulina e maior mortalidade por todas as causas de neoplasia em pacientes com esse perfil.
A revista americana Breast Cancer Research publicou um estudo demonstrando que a resistência à insulina é um fator que contribui para o pior prognóstico do câncer de mama entre mulheres negras e brancas, potencialmente por meio de efeitos diretos da insulina no RI (receptor de insulina) do tumor. Em outro estudo, publicado na revista científica Nature, a prevalência de câncer de mama, sua progressão e recorrência estão intimamente relacionadas à resistência à insulina e a doenças metabólicas.
Além do impacto no risco de desenvolver tumores de mama e no seu prognóstico, pesquisas recentes sugerem que a obesidade também pode ter um efeito negativo no tratamento. Um alto índice de massa corporal (IMC) no momento do diagnóstico pode reduzir a eficácia da quimioterapia à base de taxano, piorando os resultados de sobrevida. O taxano é uma droga lipofílica – a gordura presente no corpo da paciente pode absorver parte da droga antes que ela atinja o tumor.
De acordo com esses estudos, pacientes com sobrepeso e obesidade tratadas com um regime de quimioterapia baseado no taxano tiveram sobrevida livre de doença e sobrevida global significativamente pior em comparação com pacientes magras tratados com o mesmo regime.
Mulheres obesas submetidas à cirurgia bariátrica apresentam menor risco de desenvolver Câncer de Mama
O excesso de peso é um risco importante para várias outras doenças, como hipertensão e diabetes tipo II. Um índice de massa corporal alto (IMC) está associado, também, a um aumento relativo do risco de morte por qualquer câncer, especialmente os de mama, endométrio e ovário. Com isso em mente, pesquisadores realizaram uma revisão sistemática para investigar o impacto da cirurgia bariátrica na diminuição do risco de se desenvolver esses tumores.
O resultado é que a cirurgia pode ter um efeito protetor, reduzindo o risco de neoplasia em mulheres que se submeteram ao procedimento cirúrgico, e que a perda de peso pode exercer, ainda, um efeito protetor contra outros tipos de doenças.
A tendência atual é de reconhecer obesidade como uma doença multifatorial que contribui para a ocorrência de neoplasias, em especial, os tumores de mama. A OMS já aponta a condição como segundo maior fator de risco para o câncer, atrás somente do tabagismo. Intervenções multiprofissionais (educador físico, nutricionista, endocrinologista e psicólogo) apresentam resultados significativos no combate desta enfermidade que já se tornou um problema de saúde pública.