Namorados: Assine Digital Completo por 1,99
Imagem Blog

Letra de Médico

Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Orientações médicas e textos de saúde assinados por profissionais de primeira linha do Brasil

Câncer: a nova epidemia silenciosa que desafia o Brasil

Complexidade da doença exige mais do que tratamento: requer revolução na forma como o país encara saúde pública e ações contra as desigualdades

Por Carlos Gil Ferreira*
Atualizado em 19 dez 2024, 19h09 - Publicado em 19 dez 2024, 10h21

O Brasil está diante de uma transformação alarmante em seu perfil epidemiológico. O câncer, uma doença historicamente associada a nações mais desenvolvidas, avança rapidamente em nosso país, refletindo mudanças sociais, econômicas e culturais. Dados recentes do The Lancet – Regional Health Americas trazem um alerta contundente: entre 2000 e 2020, o câncer saltou de causa de morte em 7% dos municípios para 13%, posicionando-se como a segunda maior causa de mortalidade no Brasil e ameaçando ultrapassar as doenças cardiovasculares.

Esses números não são apenas frios indicadores estatísticos. Representam famílias devastadas, desafios crescentes para o sistema de saúde e um chamado urgente à mobilização coletiva. O câncer não é uma doença única — trata-se de um grupo heterogêneo de mais de 200 tipos de tumores que exigem abordagens diagnósticas, terapêuticas e preventivas personalizadas. Essa complexidade exige mais do que tratamento: requer uma revolução na forma como o Brasil encara sua saúde pública.

A prevenção como alicerce

Pelo menos um terço dos casos de câncer pode ser prevenido. Esta não é apenas uma boa notícia, mas um sinal de que a mudança está em nossas mãos. Tabagismo, consumo de álcool, dieta inadequada, sedentarismo e exposição a fatores ambientais como poluição são determinantes diretos no aumento do risco de câncer. No entanto, a responsabilidade pela prevenção não deve recair apenas sobre o indivíduo.

Políticas públicas eficazes são indispensáveis. A bem-sucedida regulação do tabaco, que resultou em uma redução expressiva nos índices de câncer de pulmão, é um exemplo de como intervenções governamentais podem salvar vidas. Precisamos adotar estratégias semelhantes para combater os efeitos dos alimentos ultraprocessados e promover ambientes que favoreçam escolhas saudáveis.

A recente aprovação da Política Nacional de Prevenção e Controle do Câncer é um marco promissor, mas ainda insuficiente. Medidas práticas, como o incentivo a programas de vacinação contra HPV e hepatite B, ampliação do acesso ao rastreamento e regulamentação de práticas alimentares nocivas, devem ser priorizadas.

Continua após a publicidade

O peso das desigualdades

Não podemos ignorar o impacto das desigualdades socioeconômicas na luta contra o câncer. Enquanto municípios mais ricos avançam no diagnóstico precoce e acesso a terapias inovadoras, regiões carentes ainda sofrem com a falta de infraestrutura básica de saúde. A transição epidemiológica no Brasil, que desloca a carga de doenças infecciosas para crônicas e degenerativas, expõe a profunda vulnerabilidade de populações desfavorecidas.

O câncer, nesse contexto, torna-se não apenas uma questão de saúde, mas também de justiça social. O acesso a informações, exames diagnósticos e tratamentos deve ser um direito universal, não um privilégio. É imperativo que políticas públicas combatam essas desigualdades de maneira ativa e assertiva.

Esperança na ciência e na ação coletiva

Embora o cenário seja desafiador, há motivos para otimismo. Avanços científicos têm transformado o panorama do câncer, com terapias-alvo, imunoterapia e medicina de precisão, oferecendo perspectivas inéditas para pacientes.

Continua após a publicidade

Além disso, iniciativas intersetoriais, que integram governo, setor privado e sociedade civil, têm mostrado resultados promissores em outras áreas da saúde e podem ser adaptadas para o controle do câncer. A luta contra o câncer requer uma abordagem multidisciplinar e integrada que priorize:

  • Prevenção e educação: campanhas massivas para conscientização sobre fatores de risco e estilos de vida saudáveis
  • Diagnóstico precoce: ampliação do acesso ao rastreamento populacional para tipos prioritários de câncer, como mama, colo do útero e intestino
  • Tratamento equitativo: expansão de centros especializados em regiões menos favorecidas
  • Regulação eficaz: maior controle sobre produtos e práticas que contribuem para o aumento do risco

O câncer é, sem dúvida, um adversário complexo, mas a união de esforços pode transformar essa realidade. Cada cidadão, instituição e profissional tem um papel essencial nessa jornada. Que esta reflexão inspire não apenas debate, mas ações concretas e sustentáveis para mudar o rumo dessa história.

Continua após a publicidade

*Carlos Gil Ferreira é oncologista, diretor médico da Oncoclínicas e presidente do Instituto Oncoclínicas

Compartilhe essa matéria via:
Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

OFERTA RELÂMPAGO

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*
Apenas 1,99/mês*

Revista em Casa + Digital Completo

Receba 4 revistas de Veja no mês, além de todos os benefícios do plano Digital Completo (cada revista sai a partir de R$ 7,48)
A partir de 29,90/mês

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$23,88, equivalente a R$ 1,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.