Avanços no tratamento da esclerose múltipla contemplam inclusive cannabis
Neurologista ressalta importância de uma abordagem personalizada diante da doença e capaz de melhorar sua evolução e sintomas que atrapalham a rotina
Apesar de ser considerada uma das desordens neurológicas mais comuns em adultos jovens no mundo, em especial mulheres de 20 a 40 anos, a esclerose múltipla ainda é pouco conhecida pela população. No Brasil, segundo a ABEM (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), estima-se que existam cerca de 40 mil pessoas vivendo com a enfermidade, enquanto, no mundo, tenhamos mais de 2,8 milhões de casos.
Estamos falando de uma doença autoimune, crônica e inflamatória, que tem como característica o ataque do sistema imunológico à bainha de mielina, uma capa das células nervosas extremamente importante para a condução dos impulsos.
A inflamação compromete diversos sistemas funcionais, tais como visão, sensibilidade, coordenação e/ou força motora, ocasionando uma espécie de falha na comunicação entre o cérebro e o restante do corpo.
Além da sensação de fadiga, alterações de visão (dupla ou borrada), dificuldade no controle da bexiga e intestino, os pacientes podem apresentar distúrbios motores que resultam na dificuldade para andar, falta de equilíbrio e coordenação, formigamentos, rigidez muscular, entre outras manifestações. Em alguns casos, podem ocorrer quadros de perda de memória e depressão.
Mas como diagnosticar essa doença? Ainda não há um marcador específico identificado por exames para essa enfermidade. Por isso, para detectá-la, recomenda-se a realização de exames de imagem, como a ressonância magnética. Em alguns casos, realizamos a punção lombar para a coleta do líquor.
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Sabe-se que a esclerose múltipla envolve várias causas, como fatores genéticos e ambientais, e até mesmo infecções virais, tabagismo, obesidade, entre outras condições. Apesar de ser uma doença ainda sem cura, já existe uma série de medicamentos (de imunomoduladores a anticorpos monoclonais) que auxiliam no melhor manejo das consequências no organismo.
Um deles traz em sua composição o CBD e THC, substâncias encontradas na planta da Cannabis sativa, e tem se mostrado eficaz no controle da espasticidade, condição frequente em 80% dos casos de esclerose múltipla. Pacientes com espasticidade costumam relatar sensação de rigidez nos músculos, o que dificulta a movimentação e o dia a dia.
Além de reduzir a rigidez e a falta de mobilidade provocadas pela espasticidade, a terapia baseada na cannabis pode reduzir a dor, proporcionando melhorias na qualidade de vida.
É importante entender que cada paciente exige um tratamento individualizado e o apoio de uma equipe multidisciplinar, de acordo com as suas necessidades. Quanto antes a esclerose múltipla for diagnosticada e tratada, maior a chance de reduzir a incapacidade permanente imposta aos pacientes. Felizmente, o arsenal terapêutico à nossa disposição está em crescimento.
* Douglas Sato é neurologista e professor titular da Escola de Medicina Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUC-RS)