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José Vicente

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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.

O voto negro pode e deve salvar o Brasil

Maioria da população, os pretos e pardos se transformaram numa força votante poderosa e ela poderá reger e definir os destinos do país

Por José Vicente Atualizado em 20 out 2022, 11h02 - Publicado em 20 out 2022, 10h58

As eleições de 2022 evidenciaram o novo peso e protagonismo do negro na cena política brasileira. Representando 54% dos brasileiros, a maioria dos evangélicos, dos católicos e das mulheres, os negros se transformaram numa força votante poderosa e ela poderá reger e definir os destinos do país. Nessas eleições, pela primeira vez na história, a maioria dos candidatos – 52,4% – se autodeclararam negros contra 48,7% dos brancos. Dois candidatos negros Leonardo Péricles (UP) e Vera Lúcia (PSTU) concorreram à Presidência da República e seis senadores, 25,7% do senado e 135 deputados federais, 25,7% da Câmara, autodeclarados negros saíram vitoriosos das urnas, distribuídos entre 23% no espectro da esquerda e 52% na direita.

Forjados na resistência ancestral da luta e combate à escravidão, ao racismo, à exclusão, os negros subverteram a lógica política de raça inferior imposta pelo racismo branco e a ideologia da branquitude e colocaram por terra o destino manifesto da ciência eugenista brasileira, que apontava o dia e hora para sua eliminação e apagamento do imaginário da nação. Diferentemente do vaticínio, transformaram e converteram a falsa sina arquitetada em renascimento, superação, e, em potência para construção dos meios para a erradicação da desigualdade de direitos, oportunidades e participação social. E, o caminho da política será inevitável.

Todavia, se a luta e a resiliência negra serão sempre o combustível para realização dessa infinita jornada de transformação, foi e é a democracia restabelecida, formalizada e garantida a partir da constituição cidadã de 1988 e suas premissas de garantia e prevalência dos direitos humanos, combate ao racismo, garantia da igualdade racial, promoção das ações afirmativas e defesa da dignidade da pessoa humana, que constituíram e consolidaram os pilares fundamentais para a ressignificação e valorização da sua trajetória histórica e social, do fortalecimento da autoestima, pertencimento, inclusão e da sua esperança.

Foi a democracia complementada pelo acolhimento e a contribuição das forças progressistas e de esquerda que até aqui recepcionaram e ajudaram a efetivar as mais importantes reivindicações sociais, políticas e comunitárias desses brasileiros, e o elemento consolidador dessa construção evolutiva. Foi com Brizola, Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma Rousseff que a história milenar dos negros chegou às escolas e aos livros escolares e seus personagens tornaram heróis nacionais, ganharam feriados estaduais e municipais. Tornaram nomes de prédios, viadutos, praças e ruas. Foi com Lula e Dilma que os negros chegaram aos cargos de ministros de Estado e da Suprema Corte. Com eles e com as cotas raciais nas universidades e serviços públicos, os negros tornaram-se médicos, advogados, juízes, promotores de justiça, diplomatas, empresários e oficiais das forças armadas. Tornaram-se protagonistas nos filmes e novelas e estamparam as primeiras páginas de revistas e jornais.

Pode ser pouco, mas esse pouco já foi algo revolucionário. Perder essas conquistas vai significar retornar à estaca zero sem qualquer possibilidade de começar de novo. Todos esses avanços, sua consolidação e ampliação, somente são e serão possíveis e indestrutíveis num ambiente de profundo respeito aos fundamentos democráticos. Onde a democracia seja respeitada, inegociável e defendida. Onde a prevalência do respeito às instituições e da dignidade da pessoa humana sejam valores prioritários, inexpugnáveis e inconcessíveis.

Numa disputa eleitoral em que um dos lados se apresenta como perigo e afronta a ordem pública e as instituições, e se manifesta abertamente como possibilidade de ruptura e destruição da democracia e seus valores, mais do que obrigação é uma exigência que o eleitor negro consciente, maioria dos eleitores, coloque-se de pé e faça do seu voto  instrumento de garantia das suas conquistas e de segurança e defesa da democracia e do país. O voto negro pode e deve salvar o Brasil.

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