Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana

José Vicente

Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO
Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
Continua após publicidade

O momento da revolução das cotas para professores negros nas universidades

Políticas afirmativas implementadas recentemente em instituições como a USP soam como embrião de uma profunda, urgente e grandiosa mudança

Por José Vicente
Atualizado em 8 Maio 2023, 19h28 - Publicado em 8 Maio 2023, 19h18
  • Seguir materia Seguindo materia
  • No seu mais recente, prestigioso e contundente livro A Última Trincheira da Abolição, Cristovam Buarque, intelectual denso, inquieto e de olhar apurado e sensível, aponta com precisão que a trincheira faltante para conclusão da abolição da escravatura real e efetiva é a inclusão integral do negro na educação e a promoção de uma educação republicana, democrática, antirracista, inclusiva, igualitária, diversa — e que ofereça a mesma qualidade para o filho do pobre e para o filho do rico. Para o filho do negro e para o filho do branco. Isto porque a abolição, além de procrastinar nas ações necessárias para tornar os negros libertos efetivos cidadãos, praticamente manteve o sentido da escravização ao não construir mecanismos de acesso a educação aos pais e filhos negros libertos.

    Estruturada e desenvolvida sobre esses pressupostos, e afogada nesse falso republicanismo, tornou-se educação elitista, racista, excludente, injusta e discriminadora. Uma educação que distingue e hierarquiza. Os ricos com acesso ao ensino fundamental privado e universidade pública gratuita de altíssima qualidade — e os pobres com a escola publica despossuída, sucateada e acesso ao ensino superior particular caríssimo e desqualificado.

    E, por fim, uma educação branca, hegemônica, segregatória e construída sobre estigmas e princípios de um verdadeiro sistema de apartheid racial, onde os negros quando muito puderam tão somente sentar-se nas carteiras escolares como alunos. Jamais como formuladores, gestores, professores, pesquisadores e dirigentes da educação. Nem na educação pública e menos ainda na educação privada.

    A luta intensa e permanente dos negros, os esforços do Brasil republicano e as poucas concessões do sistema dominante da branquitude têm vagarosamente ajudado mudar parte dessa feia fisionomia. A ações afirmativas na educação pública e privada e as cotas para alunos negros no ensino superior têm sido instrumentos valioso dessa ferrenha batalha, mas impotente, até aqui, para alcançar o equipamento educacional na sua inteireza, e incapaz de projetar-se para fora dos muros estatais.

    Continua após a publicidade

    É nesse sentido que propostas de cotas para professores negros na Universidade de São Paulo e Unicamp e aprovação de cotas de 37% de professores negros no corpo docente da PUC/SP, instituição de ensino superior privado de altíssima qualidade e relevância, soam como embrião de profunda e grandiosa mudança na estruturação e formalização da educação, com capacidade de promover uma verdadeira revolução na educação, seus propósitos civilizatórios e, sobretudo, no próprio país.

    Uma educação pública e privada antirracista, inclusiva, que fortaleça e valorize a diversidade racial que garanta oportunidade para profissionais da educação independentemente de cor e raça e que congregue nos seus objetivos todas as contribuições, sentidos e visões de mundo, seguramente será uma educação de elevadíssima capacidade democrática, aglutinadora e harmonizadora social, e, principalmente, de produção e construção de uma educação mais rica, legítima, unificadora, potente, estimulante e aproveitadora do conjuntos do melhores dos recursos e talentos humanos disponíveis na nação.

    Ou seja, uma educação libertadora, criativa e desbravadora. Fortalecedora da democracia e da coesão social, acolhedora e integradora das diferenças, e estimuladora do florescimento de pulsantes talentos e inventividades. Com os professores incluídos e garantidos nos bancos do ensino superior público e privado, o país dá mais um salto profundo, consistente e urgente na superação da última trincheira da abolição.

    Publicidade
    Publicidade

    Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

    Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

    Black Friday

    A melhor notícia da Black Friday

    BLACK
    FRIDAY

    MELHOR
    OFERTA

    Digital Completo

    Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

    a partir de 5,99/mês*

    ou
    BLACK
    FRIDAY
    Impressa + Digital
    Impressa + Digital

    Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

    a partir de 39,96/mês

    ou

    *Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
    *Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

    PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
    Fechar

    Não vá embora sem ler essa matéria!
    Assista um anúncio e leia grátis
    CLIQUE AQUI.