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José Vicente

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Professor, advogado e militante do movimento negro, ele é o reitor da Faculdade Zumbi dos Palmares, em São Paulo, instituição pioneira de ensino no Brasil que ajudou a fundar em 2004.
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13 de maio, Dia da Abolição: liberdade e educação salvam vidas negras

A liberdade do negro foi construída desde o dia da escravização e é resumo incontestável da coragem, valentia e resistência dos quilombos e dos quilombolas

Por José Vicente
Atualizado em 13 Maio 2023, 10h55 - Publicado em 13 Maio 2023, 10h54

Sem Educação não há liberdade. Com essa definição e clareza construímos os primórdios de uma intervenção intencionada para modificar a realidade do nosso tempo, quando os jovens inexistiam nos bancos universitários e o grau de hostilização racial vinha estampado nos jornais que ardilosamente comunicavam que as vagas dos postos de trabalho exigiam boa aparência. Tempos em que negros no interior de shoppings, nas agências bancárias, nos restaurantes medianos, nos supermercados e aos olhos da polícia eram tidos como suspeitos e recebiam o mesmo tratamento dos dias atuais, porém de forma quase que oficializada.
Sabíamos que existiam batalhas a serem continuadas e realidades artificiosas a serem modificadas, e que somente o conhecimento poderia desvelar os mistérios das coisas da natureza, da natureza das coisas. Poderia entregar as chaves dos segredos e revelar o funcionamento das engrenagens do poder e das hegemonias. Somente o conhecimento daria o maior dos tesouros que ninguém nunca mais poderia nos tirar a informação do funcionamento do mundo que aliado ao conhecimento e a sabedoria ancestral tornaria todo jovem negro definitivamente livre e imortal.
Com o espelho do sucesso da ascensão intelectual, social, econômica e profissional dos negros americanos que brotavam aos borbotões das centenas das universidades negras daquele país, tivemos a certeza que mesmo que o racismo persistisse e nos confrontasse, com o diploma acadêmico debaixo do braço e dinheiro no bolso para comprar os títulos e símbolos de merecimento social, teríamos garantida nossa liberdade e poderíamos circular, entrar, sair, tendo garantida a integridade física e psicológica em qualquer espaço público, ou qualquer espaço privado que o dinheiro pudesse pagar.
Juntamos o sonho do Doutor Martin Luther King de que um dia seus filhos pudessem ser julgados e medidos apenas pelo caráter, nunca por sua raça ou cor da pele, com o vaticínio de Nelson Mandela, de que ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor da sua pele. Que as pessoas que aprenderam a odiar podem ser ensinadas a amar. Pusemos tudo num caldeirão e temos cozido com paciência e obstinação esse novo alimento da nossa alma e do nosso espírito, na certeza irrepreensível de que estamos fazendo a coisa certa e respondendo a expectativa e o comprometimento exigido da nossa geração.
A liberdade do negro foi construída desde o dia da escravização e é resumo incontestável da coragem, valentia e resistência dos quilombos e dos quilombolas, de Zumbi dos Palmares e de Luiz Gama e seus camaradas. Nas matas e no asfalto foi enfrentamento, luta e resistência. Nem a eugenia e nem o apartheid imobilizaram ou limitaram o caminho e nem a intolerância e discriminação inviabilizaram e tornaram inalcançável o nosso destino. Mas foi a educação que libertou nossas mentes, robusteceu nossas energias, engrandeceu nossa resistência. Foi a educação que fortaleceu nosso pertencimento e viabilizou nosso futuro e garante nossa autonomia. A educação salva vidas e garante a liberdade. Jovens negros não se iludam: sem educação não há liberdade.

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