Versos, prazeres e segredos do poeta Vinicius
Em mostra virtual, raridades do poeta, músico e diplomata Vinicius de Moraes, que atravessou 66 anos de bem com a vida, as mulheres, a bebida e os versos

Está na rede o acervo pessoal de Vinicius de Moraes. É proeza da Fundação Casa de Rui Barbosa, do Rio, e um bálsamo nesses tempos estranhos de pandemia.
Os milhares de arquivos convidam interessados em poesia, literatura, teatro, cinema e música a uma viagem no tempo, nos prazeres e nos segredos de um poeta, e servidor público (diplomata), que atravessou 66 anos de bem com a vida, as mulheres, o álcool e os versos.
Há fragmentos curiosos da sua obra, manuscritos de canções e da rotina no Rio, em Buenos Aires, em Oxford (Inglaterra) e em Los Angeles, além de correspondências com Charlie Chaplin, Orson Welles, e parceiros — principalmente, Tom Jobim.

Certo dia, Tom escreveu ao poeta: “Quero falar de negócios antes que bata a preguiça.” E propôs a retomada de um antigo projeto, um disco só de samba, na voz de Elizeth (escreve “Elizete”) Cardoso.
Lista uma dezena “fora da minha parceria com você”. A primeira é “Quando tu passas por mim“. Ao lado, abre parêntesis e conta: “Dei parceria ao (Antônio) Maria, mas só pró-forma. O samba é todo meu!” — veja reprodução acima.
Entre raridades há, também, originais de poemas rascunhados, alguns pouco conhecidos, como Epitáfio, escrito em 1939, ao som dos tambores da IIª Guerra Mundial, quando vivia em Oxford,:
Aqui jaz o Sol,
Que criou a aurora
E deu luz ao dia
E apascentou a tarde.
O mágico pastor
De mãos luminosas
Que fecundou as rosas
E as despetalou.
Aqui jaz o Sol
O andrógino meigo
E violento, que
Possuiu a forma
De todas as mulheres
E morreu no mar.