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Trapalhada na compra de arroz expõe a desordem no governo Lula

Ao entregar negócio milionário a sorveteria, casa de queijos e locadora, governo pagou preço alto. O arroz barato prometido continua longe dos consumidores

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 12 jun 2024, 18h09 - Publicado em 12 jun 2024, 08h00

O governo parece querer ameaçar o emprego dos humoristas. É o que sugere a trapalhada na importação de arroz.

Semanas atrás, Lula levou duas ideias ao Rio Grande do Sul, em meio à tormenta.

Uma foi a escolha do então ministro da propaganda Paulo Pimenta para a função de delegado presidencial na condução do plano federal para reconstrução do Estado.

A opção por Pimenta, deputado federal licenciado, foi vista no PT local como uma intervenção direta de Lula na disputa interna pela candidatura ao governo estadual em 2026. Petistas julgaram extemporânea, entre outros motivos, porque o rio de enchente ainda devastava a vida dos gaúchos.

Outra ideia foi o anúncio da compra de arroz no exterior: “Tomamos a decisão de importar 1 milhão de toneladas de arroz para que a gente possa equilibrar o preço do arroz no país”, comunicou Lula.

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O Rio Grande do Sul produz dois terços do arroz consumido no país e quase toda a safra (85%) já havia sido colhida. O problema não era de escassez do produto, mas de impossibilidade de transporte com estradas e pontes destruídas, advertiram empresários.

Não se sabe quem soprou a ideia a Lula, mas está claro que ele viu na enchente uma oportunidade de marketing da intervenção estatal, com preço tabelado e destaque em vermelho na embalagem: “Produto adquirido pelo governo federal.”

Em dez dias, editou Medida Provisória, autorizou a estatal Conab a comprar até um milhão de toneladas e reduziu a zero o imposto de importação de três tipos de arroz.

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Com um novo comprador disposto a pagar por um lote significativo, os preços do arroz subiram nos mercados vizinhos do Mercosul. Aos produtores gaúchos que protestavam contra a concorrência na especulação, o ministro da Agricultura, Carlos Fávaro, retrucou: “É decisão do presidente.”

Havia uma pedra no caminho: o governo não tem capacidade de realizar a a importação e fazer uma distribuição eficiente nos sete maiores mercados consumidores (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Pernambuco, Ceará, Pará e Bahia).

O presidente da estatal Conab, Edegar Pretto, candidato derrotado do PT na eleição para o governo estadual, juntou-se ao secretário do Ministério da Agricultura, Neri Geller, para organizar a primeira compra.

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Bateram o martelo na compra de 263 mil toneladas de arroz — “uma decisão emergencial para aplacar distorções, aumento de preços e temores da falta do produto ocasionadas pelas enchentes no Rio Grande do Sul”, justificou a estatal dirigida por Pretto.

Escolheram quatro empresas fornecedoras. Só uma (Zafira Trading) era do ramo e ganhou o direito de importar menos de um terço da quantidade pretendida pelo governo.

Dois terços dessa operação emergencial de comércio exterior, na qual Lula decidiu gastar 7,2 bilhões de reais, com pagamento ancorado no aumento da dívida pública, foram entregues a três empresas: uma sorveteria de Tatuí (SP), uma revendedora de queijos de Macapá (AP) e uma locadora de veículos de Brasília.

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A situação piorou com a descoberta de vínculos entre associados a uma dessas empresas ao secretário Geller, da Agricultura, demitido nesta terça-feira (11/6) por suposto conflito de interesses.

Em quatro semanas, Lula acabou exposto numa trapalhada que mistura marquetagem rudimentar, intervencionismo tosco, incompetência administrativa, ineficácia econômica e suspeição de jogo de cartas marcadas em licitação pública.

Houve falência múltipla no governo — da Casa Civil aos ministérios da Agricultura e Desenvolvimento Agrário, passando pela estatal Conab.

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O barato saiu caro politicamente e o arroz prometido, com preço tabelado, continua onde estava: longe da mesa dos consumidores.

Quando um governo resolve disputar espaço com os comediantes, resta aos humoristas a receita do imbatível Will Rogers, um dos pais da comédia em pé (o Stand Up): nunca fazer piadas; apenas observar o governo e reportar os fatos.

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