Presente de Tarcísio aos adversários: 673 mortes em ações policiais
Nos últimos onze meses morreu mais gente em ações da polícia paulista do que em 2023: foram 61 mortes por mês, duas por dia, uma a cada doze horas
Tarcísio de Freitas, governador de São Paulo, está começando planejar sua campanha para a eleição de 2026. É mais provável, hoje, que seja candidato à reeleição pelo Republicanos e se mantenha à margem da disputa presidencial.
Às vésperas de uma campanha que se prenuncia acirrada, é notável a vulnerabilidade do governador-candidato na segurança pública.
O lado mais visível do governo paulista, nessa área que diferentes pesquisas indicam ser de interesse prioritário do eleitorado, tem sido o da banalização da morte em ações policiais.
Os dados do Ministério Público são eloquentes: até novembro 673 pessoas morreram em intervenções da polícia. Equivale a 61 mortes por mês, duas por dia, uma cada doze horas.
Nos últimos onze meses, morreu mais gente em ações policiais do que durante todo o ano passado (foram 460).
É evidente que alguma coisa está fora da ordem na segurança pública paulista.
Sempre existe a possibilidade de que parte das mortes não tenha origem no arbítrio dos agentes. Porém, mesmo quando a exceção ocorre, o governo Tarcísio de Freitas tem dificuldades em mostrar evidências. E a razão é o vacilo na adoção de políticas rígidas de fiscalização e controle da atividade policial.
A premissa da inocência dos agentes do estado tem sido uma constante nas reações do governador paulista à escalada de mortandade em ações policiais.
Ela pode ser útil à política assentada no corporativismo que alenta aspirações políticas de seus defensores, como é o caso do secretário de Segurança, Guilherme Derrite. Mas para o governo é, essencialmente, perigosa.
Entre várias razões, duas se destacam:
1) Envenena a política de segurança pública, que se converte em fator de insegurança para a sociedade;
2) Obriga o governador, principal responsável, à exaustão na repetição da promessa de que os casos “serão investigados, rigorosamente punidos e outras providências serão tomadas em breve”.
O biombo retórico de Tarcísio de Freitas é insuficiente para dissimular sua evidente fragilidade no comando do governo paulista: o descontrole da força policial. Na campanha, é um presente para os adversários.