O maior e mais rico partido político brasileiro, abrigo de Jair Bolsonaro com o seu grupo parlamentar radical, corre risco de atravessar a temporada eleitoral de 2026 no banco dos réus do Supremo Tribunal Federal.
Na semana passada, o STF emitiu ordem judicial para retomada das investigações sobre o que o Partido Liberal fez na eleição de 2022 para manter Bolsonaro no poder. Isso vai deixar o PL exposto na vitrine política do ano que vem.
O principal partido de oposição estará no alvo por ter sido usado como tapume numa arquitetura de golpe de Estado adornada com plano de triplo homicídio: dos adversários Lula e Geraldo Alckmin, que derrotaram Bolsonaro e, agora, são prováveis candidatos à reeleição; e do juiz Alexandre de Moraes, na época presidente do Tribunal Superior Eleitoral, hoje relator do processo no Supremo sobre a tentativa de golpe.
Até agora, o PL era sujeito oculto no julgamento da trama golpista. Permanecia elíptico, raramente nomeado, até em momentos relevantes, como o da confissão de Bolsonaro no tribunal:
— A cogitação (do golpe), a conversa (com os chefes militares), o início dessa questão de estado de sítio e estado de defesa teria sido em virtude da impossibilidade de recurso eleitoral, é isso? — quis saber o juiz Moraes.
— Sim, senhor — reconheceu Bolsonaro.
— Mas o senhor sabe que o seu partido recorreu e perdeu, por unanimidade, no plenário do TSE. —O réu acenou com a cabeça, concordando.
Pouco depois da derrota nas urnas, o presidente do PL resolveu dar um presente a Bolsonaro. Valdemar Costa Neto pagou cerca de 1,5 milhão de reais ao empresário Carlos Rocha, dono da empresa Instituto Voto Legal, para produzir “relatório” sobre fraudes na apuração.
Um perito contratado desmentiu a trapaça, mas o presidente do PL insistiu em disseminar a versão de “fraude” nas urnas eletrônicas. Ao mesmo tempo, apresentou à Justiça Eleitoral um pedido de auditoria, sugerindo manipulação de mais da metade (56%) dos 118,5 milhões de votos válidos.
“PL vai ficar na vitrine eleitoral de 2026 exposto como a central do golpe”
Valdemar julgou ser retribuição adequada às “gentilezas” de Bolsonaro, desde o arrendamento do partido, em 2021, quando entregou-lhe o comando de um banco federal (Nordeste); do fundo bilionário da Educação (FNDE); de áreas-chave na governança do meio ambiente (Ibama); da política fundiária (Incra); de infraestrutura (Dnit); de saúde e saneamento (Funasa); além de privilégios no pagamento de emendas do orçamento secreto.
Para Bolsonaro, mostram os autos do processo, o gesto de Valdemar representou o alento necessário para tentar convencer os comandantes do Exército e da Aeronáutica, resistentes à proposta de golpe de Estado.
Na segunda-feira 14 de novembro, chamou para uma conversa no Palácio da Alvorada o chefe da FAB, Carlos Baptista, e o representante da força no comitê militar criado para auditar as urnas eletrônicas — o grupo havia afirmado em relatório oficial não ter encontrado irregularidade, mas a divulgação foi impedida por semanas.
Bolsonaro entregou ao brigadeiro uma cópia do relatório com a “auditoria” adquirida por Valdemar. Baptista contou no tribunal ter folheado o papelório, criticado erros de redação e, sobretudo, o ardil usado no texto para enganar o leitor na conclusão sobre fraude. “Sofisma”, nas suas palavras.
Na Justiça Eleitoral, enquanto isso, o PL de Valdemar e Bolsonaro defendia uma recontagem de votos limitada ao segundo turno da eleição presidencial, embora as urnas eletrônicas fossem as mesmas utilizadas no primeiro turno, quando o partido festejou a eleição da maior bancada parlamentar, com 99 deputados federais e catorze senadores.
O partido teve seu recurso judicial rejeitado e ainda foi multado em 22,9 milhões de reais por “litigância de má-fé”. Entre a compra da “auditoria” e a multa da Justiça Eleitoral, o PL gastou ao menos 24,4 milhões de reais de dinheiro público naquilo que a Procuradoria-Geral da República descreve como a “última etapa” da “estratégia” de Bolsonaro para “fundamentar a tentativa de execução do golpe de Estado”.
Deu errado. A PGR, no entanto, não denunciou a cúpula do partido e, agora, recebeu ordem do STF para retomar o inquérito. Isso vai se estender pelo próximo ano, durante a campanha eleitoral. Então, o Partido Liberal ficará na vitrine, exposto como a central do golpe, com Bolsonaro e Valdemar capitaneando três dezenas de civis e militares — alguns assalariados do PL —, protagonistas num enredo de crimes contra a Constituição e o Código Penal. Pior, é difícil. Quase impossível.
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Publicado em VEJA de 24 de outubro de 2025, edição nº 2967
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