Pesquisa: apelo de Lula e do PT já não encanta eleitores
Depois de três décadas de reprises em campanhas e governos, antigos dogmas sobre a intervenção do Estado na economia esmaeceram aos olhos da maioria
Lula e o Partido dos Trabalhadores aproveitaram as celebrações dos primeiros cem dias de governo, na segunda-feira, 10, para renovar compromissos com um antigo ideário de intervenção do Estado na economia.
Na leitura da cúpula do partido, a base da “solidariedade ativa” ao governo Lula está no antigo apelo político sobre “o papel do Estado brasileiro na retomada do crescimento econômico”.
Em nota pública, o diretório nacional do PT exaltou as reafirmações de Lula nas últimas sete semanas sobre a “retomada do papel estratégico da Petrobras no desenvolvimento, a suspensão de seu desmonte e da privatização de outras empresas públicas e estatais”.
Não há nada de novo no front petista nem na retórica de Lula. Tem sido assim há 34 anos, desde que ele estreou no ofício de candidato à presidência da República (em 1989, perdeu para Fernando Collor).
Uma novidade, no entanto, está no comportamento do eleitorado, captada pelo Datafolha em pesquisa sobre os primeiros cem dias de governo.
São claros os sinais de que a palavra “privatização” está perdendo o apelo negativo que Lula e o PT lhe atribuíram nas campanhas eleitorais últimas três décadas.
A taxa de apoio à privatização de empresas e serviços públicos cresceu significativamente, entre setembro do ano passado, às vésperas da eleição presidencial, e a última semana de março.
Aumentou a proporção de eleitores a favor nos últimos seis meses (passou de 26% para 38%). E diminuiu a taxa daqueles que são contrários (caiu de 66% para 45%).
Os eleitores mais jovens são mais favoráveis às teses sobre privatizações de companhias e serviços estatais (41% a favor, 33% contra). Eles têm entre 16 a 24 anos de idade, nasceram num mundo inteiramente conectado pela internet.
O apelo político da cartilha antiprivatização ainda ecoa, mas, informa a pesquisa, já não encanta ou magnetiza aqueles eleitores (25 a 44 anos) que atravessaram a vida convivendo com Lula no papel constante de candidato à presidência.
Nessa faixa etária, a retórica em defesa da prevalência das empresas públicas e estatais só alcança maioria (45% contra 36% a favor) entre eleitores de 25 a 34 anos. No contigente seguinte, de 35 a 44 anos, tem-se um empate (43%).
Para Lula e o PT, esses resultados do Datafolha não contêm boa notícia. Confirma-se na avaliação majoritária (54%) dos produtos e serviços das empresas privadas como melhores do que os das empresas estatais, seguido por parcela (26%) que considera muito melhores e outro tanto (28%) um pouco superior.
Depois de três décadas de reprises promovidas por Lula e pelo PT, antigos dogmas sobre a intervenção do Estado na economia transparecem desbotados, esmaecidos aos olhos da maioria (58%) de um eleitorado cada vez mais crítico e incomodado com a qualidade dos produtos e serviços estatais.