O valor de um verso: US$ 2,1 bilhões
"Antes que as cinzas [da fogueira de livros] esfriem, revoltas surgirão ao leste das montanhas"
Linguagem em estado de pureza selvagem, foi como o escritor mexicano Octavio Paz definiu poesia. Poetas escrevem, leitores imaginam e ambos atribuem valores diferentes a um mesmo verso.
O bilionário Wang Xing acaba de conhecer um novo significado para o valor de um verso: US$ 2,1 bilhões, o equivalente a R$ 11,3 bilhões.
Ele perdeu essa dinheirama em uma semana de queda (14%) das ações da sua Meituan-Dianping, uma das grandes empresas de tecnologia da China.
Wang publicou na sua rede social, Fanfou, um verso de mais de um milênio, atribuído ao poeta Zhang Ji e escrito num período em que o governo Zheng, queimava livros e sepultava intelectuais das Cem Escolas de Pensamento.
“Antes que as cinzas [da fogueira de livros] esfriem, revoltas surgirão ao leste das montanhas” — diz o verso, em crítica ao imperador da época.
Se passou um milênio e na leitura atualizada da burocracia de Pequim a publicação do verso foi interpretada como crítica velada de Wang ao governo Xi Jinping, que tenta enquadrar as empresas de tecnologia no manual de prioridades políticas.
Xi conhece o significado da palavra “censura”. Quando era vice-presidente chegou a ter seu nome suprimido da internet.
O valor do verso milenar tende a aumentar: a empresa de Wang está sob investigação e já recebeu multa de US$ 800 milhões (R$ 4,3 bilhões).
O capitalismo selvagem de Hong Kong foi absorvido pelo comunismo domesticado da China, ironizava o escritor Millôr Fernandes. A poesia, ainda não.