O que os eleitores paulistas querem numa privatização
A abordagem do eleitorado paulista sobre a venda de empresas estatais se revela fundamentalmente pragmática nessa temporada eleitoral
Eleitor paulista é pragmático. Costuma dar preferência no voto a candidatos que acenam com melhores perspectivas para o seu padrão de vida, aumentando o poder de compra do dinheiro que leva no bolso.
A abordagem paulista sobre privatizações se revela fundamentalmente pragmática nessa temporada eleitoral. Os donos do voto aparentam distanciamento das motivações políticas ou ideológicas que têm pautado o tema nos debates eleitorais das últimas três décadas.
No cardápio do governo paulista de empresas estatais passíveis de venda ao setor privado se destaca a Sabesp, valiosa empresa de água, coleta e tratamento de esgotos com 28 milhões de clientes, entre pessoas e empresas localizadas em 363 municípios.
É controlada pelo governo estadual (50,3% do capital) e tem ações negociadas nas bolsas de São Paulo (34,4%) e de Nova York (15,3%). Opera com 12 mil empregados, grande parte associada a sindicatos vinculados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), braço sindical do Partido dos Trabalhadores. Ano passado faturou R$ 19 bilhões e lucrou R$ 2,3 bilhões.
“O sr. (a.) é a favor ou contra a privatização da Sabesp?”, perguntou o Ipespe a mil eleitores paulistas na terça e quarta-feira da semana passada, por telefone.
A maioria (44%) respondeu “contra” a venda da empresa estatal, projeto anunciado para 2023 e defendido por alguns dos candidatos ao governo paulista. Parte (35%) declarou ser “a favor”. Outros (21%) não souberam se posicionar ou não quiseram responder na pesquisa com margem de erro de 3,2 pontos percentuais.
Na sequência, os entrevistados foram estimulados a delinear sua intuição do que aconteceria com as contas domésticas de água e esgotos: “Caso a Sabesp seja privatizada as tarifas de água e esgoto irão…”
Aumentar foi a resposta da maioria (46%). Poucos (16%) veem chance de diminuir os custos e outros (27%) supõem que nada mudaria.
“E caso a privatização resulte em diminuição das tarifas cobradas, o sr(a). seria a favor ou contra a sua privatização?” — provocou o Ipespe.
Então, os eleitores paulistas mudaram radicalmente de posição: ampla maioria (62%) passou a ser favorável à privatização da Sabesp. O grupo “contra” ficou minoritário (28%).
Com pouco mais de 33 milhões de votos disponíveis, São Paulo é o maior colégio eleitoral brasileiro. O caso Sabesp pode ser referência do espírito pragmático do eleitorado na disputa de ideias sobre a revisão do papel do Estado no próximo governo.