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Informação e análise
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O mistério da disparidade dos resultados de Lula e Bolsonaro nas pesquisas

Vantagem de Lula sobre Bolsonaro varia de 4,8 até 17 pontos nas pesquisas. A diferença pode ter origem na pobreza da base estatística sobre a sociedade

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 17 Maio 2022, 10h07 - Publicado em 14 Maio 2022, 08h00

A vantagem de Lula em relação a Jair Bolsonaro variou de 4,8 pontos percentuais  até 17 pontos nas pesquisas eleitorais divulgadas nas últimas duas semanas.

Em retrospecto, foram apurados os seguintes resultados em sondagens recentes, nas quais o eleitor é estimula à escolha numa lista de nomes:

* A diferença foi de 12 pontos entre Lula (44%) e Bolsonaro 32% no levantamento do Ipespe, baseado em 1.000 entrevistas telefônicas realizadas entre os dias 9 e 11 de maio;

* A distância ficou em 7 pontos entre Lula (42%) e Bolsonaro (35%) na apuração do PoderData, nos dias 8 e 10 de maio, em 3.000 entrevistas telefônicas;

* O intervalo chegou a 17 pontos, com Lula (46%) muito à frente de Bolsonaro (29%) na pesquisa Genial/Quaest, baseada em 2.000 entrevistas presenciais entre os dias 5 e 8 de maio;

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* Uma vantagem bem reduzida, de 4,8 pontos, foi registrada na sondagem da Paraná pesquisas na semana anterior, entre os dias 28 de abril e 3 de maio, com 2.020 entrevistas presenciais.

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Essa disparidade chamou a atenção do analista Leonardo Barreto, da Vector Research. Ele resolveu mergulhar no oceano de dados produzidos por nove empresas diferentes em 33 pesquisas eleitorais feitas de janeiro a maio.

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Barreto tentou entender como as metodologias aplicadas poderiam explicar a dimensão das diferenças e em quais aspectos as sondagens apresentavam coerência.

Eis uma síntese das conclusões:

A pontuação de Lula é homogênea e estável. Apesar do pequeno aumento de variação em maio, mantém-se acima de 40%;

A maior divergência aparece na pontuação de Bolsonaro. O pesquisador alinhou duas possíveis justificativas. Numa, o voto bolsonarista seria mesmo “mais volátil”. Noutra, existiria “alguma vergonha do eleitorado” em declarar voto, em decorrência da rejeição recorde do presidente.

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Barreto descarta razões técnicas (método de coleta dos dados ou desenho da amostra) como explicação para a diferença encontrada nas pesquisas. “Se a entrevista é feita por máquina ou por uma pessoa, também não parece fazer muita diferença”, observa.

Ele está convencido de que a gênese dos problemas está na ausência de um censo nacional atualizado.

As empresas selecionam grupos de pessoas para compor a amostra do eleitorado a partir de critérios (cotas) que permitam identificar cada grupo de indivíduos como uma parte do mosaico social brasileiro.

“É aí que começam os problemas”, comenta. “As cotas, fator que determina a representatividade e principal elemento de credibilidade de um estudo, são determinadas a partir dos mapas estatísticos disponíveis. O principal deles é o Censo realizado pelo IBGE.”

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O Brasil não tem um Censo atualizado. Estava previsto para ser realizado em 2020 mas foi suspenso por corte de verbas federais.

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Por acordo entre o governo Bolsonaro e o Centrão, sua base no Congresso, o dinheiro que seria destinado ao Censo acabou transferido para o financiamento de emendas parlamentares.

Foi necessária a intervenção do Supremo Tribunal Federal para que, no orçamento deste ano, ficassem reservados o mínimo de recursos (cerca de R$ 2 bilhões) necessários à realização do Censo. Pelo calendário do IBGE, deve começar em agosto, dois meses antes do primeiro turno das eleições.

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Sem um Censo atualizado, constata Barreto, os institutos de pesquisas estão trabalhando com informações de 12 anos atrás, ou seja, definindo as cotas sociais para preparar as sondagens eleitorais a partir de um retrato antigo da sociedade brasileira.

“Os institutos têm recorrido à Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (PNAD contínua), também do IBGE, para tentar compensar a defasagem do Censo. “No entanto, ela oferece menos variáveis e, além de escolaridade, localidade e sexo, quase todas são econômicas (trabalho, faixa de renda)”, diz. “Variáveis culturais como a religião, por exemplo, não são usadas.”

Exemplifica: “Bolsonaro tem mais força entre evangélicos. Qual é o tamanho dessa população na sociedade? Ninguém sabe ao certo. Em 2010 [ano do último Censo], era em torno de 20%. Uma pesquisa do Datafolha de 2019 estimou em 30%. O Ipespe, único instituto a dar mais informações sobre as características de sua amostra por religião, mostra que, em média, entrevista 25% de evangélicos.”

Bases estatísticas pobres contêm o risco de gerar distorções na representatividade da amostra de qualquer estudo. Afetam resultados, e no caso, ele acha, podem para explicar as disparidades nas pesquisas eleitorais.

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