Black Friday: Revista em casa a partir de 8,90/semana
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

O grande buraco

Lula e Bolsonaro não entenderam: sem educação não haverá travessia

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 4 jun 2024, 12h01 - Publicado em 25 set 2022, 02h09

Sete em cada dez brasileiros podem votar no domingo, dia 2. São 156 milhões numa população de 213 milhões. É evidência do rápido envelhecimento do país.

Trinta anos atrás, pouco mais da metade (55%) da população tinha idade para ir às urnas. Foi na primeira eleição presidencial direta do ciclo pós-ditadura, quando Fernando Collor derrotou Lula. Eram 82 milhões de eleitores entre 148 milhões de habitantes.

Entre as primaveras de 1989 e de 2022 houve uma significativa mudança no tamanho das famílias, com redução do número de filhos à metade — de quatro para dois, na média. O país fez em três décadas uma transição demográfica que na Europa e na Ásia levou-se um século para realizar.

Quando Lula estreou no ofício de candidato presidencial do PT, contra Collor, eram notáveis as similaridades no estágio de desenvolvimento nacional com o da China, da Índia, da Coreia do Sul e da Espanha, por exemplo. O tempo passou na janela do Brasil, que ficou estagnado na economia e aprisionado numa lógica de atraso social mensurável nos portões das escolas de ensino básico.

O país perdeu a batalha pela modernidade por deficiências na educação. Por dois séculos, preferiu perseverar num histórico singular de mais fracassos do que acertos na política educacional, sem dar prioridade ao acesso e à qualidade do sistema básico de ensino.

Continua após a publicidade

O resultado está aí: 80 milhões, metade dos que vão às urnas, não chegaram ao final do ciclo médio educacional; e sete de cada dez desses eleitores sequer concluíram o fundamental.

Alguns avanços foram relevantes e são inegáveis. Mas, se houve, por exemplo, uma redução genérica do analfabetismo, não ocorreu mudança estrutural no padrão de qualidade do ensino. Evoluiu-se da completa ignorância na leitura e em cálculo, em 80% da população no início do século passado, para um terço de adultos acorrentado no analfabetismo rudimentar.

Na eleição de 2018, uma parcela de 29% da população com mais de 15 anos era considerada analfabeta funcional, com capacidade limitada à localização de informações explícitas em textos curtos e a cálculos matemáticos simples.

Continua após a publicidade

“Lula e Bolsonaro não entenderam: sem educação não haverá travessia”

O recorte é simbólico da crise nacional num mundo em que a sofisticação tecnológica moldou um mercado de trabalho exigente em pensamento crítico e criatividade. De cada 100 brasileiros adultos, vinte têm acesso à universidade. Outros oitenta simplesmente não possuem identidade social “por puro preconceito escravocrata com a educação profissionalizante”, como diz Rafael Lucchesi, diretor-geral do Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai).

Pesquisadores como ele consideram ser essa a principal razão do último meio século de estagnação da produtividade do trabalho, expressa na necessidade atual de quatro brasileiros para alcançar a produtividade média de um coreano ou americano na mesma função.

Continua após a publicidade

“Como sistema, nunca tivemos educação de qualidade”, escreve Antônio Gois, no livro O Ponto a que Chegamos, excelente exumação dos fracassos nas políticas educacionais recentes. “A extrema desigualdade em nosso ponto de partida como nação é elemento-chave para entender por que educação nunca foi, na prática, prioridade das elites dirigentes.”

Se já era grave, a situação no ensino básico se tornou catastrófica na pandemia que está acabando, mas ainda não terminou. Nos últimos quarenta meses, houve um aumento de 66,3% no número de crianças de 6 e 7 anos que não sabiam ler e escrever — informa a Comissão de Educação da Câmara dos Deputados com base em dados coletados pelo IBGE. Eram 1,4 milhão, agora são 2,4 milhões.

A desigualdade cresceu muito. Nas famílias mais pobres, a proporção de crianças que não sabiam ler e escrever subiu de 33% em 2019 para 51% no último trimestre. Nas mais ricas o aumento foi de 11% para 16%.

Continua após a publicidade

Sem ações emergenciais, coordenadas com os estados, consistentes e de resultados eficazes, o governo que será eleito em outubro corre o risco de terminar com o legado de uma geração de brasileiros sem educação básica adequada, numa definição elegante. O perigo é real, levando-se em conta o deserto de ideias da campanha, com a dupla de líderes nas pesquisas preferindo se refugiar na estridência de acusações mútuas e no protocolo de propostas ambíguas para o eleitorado.

Lula e Jair Bolsonaro, aparentemente, ainda não entenderam que, sem a educação no centro das decisões políticas, o Brasil tende a continuar sendo o mais antigo país do futuro.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 28 de setembro de 2022, edição nº 2808

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Semana Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

Apenas 5,99/mês

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (a partir de R$ 8,90 por revista)

a partir de 35,60/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.