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O ‘anticomunista’ Bolsonaro já fez campanha e votou no ‘comunista’ Lula

"A única satisfação que eu tenho, uma das poucas, é saber que não tem comunista sentado naquela cadeira. Só essa" — ele disse em entrevista a Veja

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 set 2021, 08h00

Há tempos Jair Bolsonaro faz do anticomunismo um meio de vida na política.

Foi no avivamento dessa crendice que reuniu votos suficientes para se eleger vereador no Rio, permanecer deputado por 27 anos no plenário da Câmara, e chegar à presidência, em 2018.

Governa pregando essa crença, planeja renovar a fé dos crédulos e converter novos fiéis na campanha pela reeleição.

Se apresenta como um exorcista em cruzada para impedir a “volta” do comunismo, mas não se sente confortável na cadeira de presidente.

“Eu, poxa, por Deus que está no céu, é uma desgraça essa minha cadeira, você não tem paz, cara” — disse aos repórteres Mauricio Lima e Policarpo Junior, de Veja, que queriam saber se Lula é o seu adversário preferencial.

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Bolsonaro fez essa introdução sobre o sacrifício de sentar na cadeira de presidente da República, e emendou com a revalidação do seu propósito na luta pela reeleição: “A única satisfação que eu tenho, uma das poucas, é saber que não tem comunista sentado naquela cadeira. Só essa.”

No início da semana, na tribuna da ONU, lembrou que “o Brasil tem um presidente que acredita em Deus, respeita a Constituição, valoriza a família e deve lealdade a seu povo — e isso é muito, se levarmos em conta que estávamos à beira do socialismo.”

Bolsonaro sonha em impedir o retorno do “comunista” Lula ao Palácio do Planalto. E Lula devaneia sobre inviabilizar a continuidade do “fascista” Bolsonaro no centro do poder.

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É como se reconhecem. É o jogo do regresso que jogam há três décadas. Na essência, são rótulos, ambos sabem, e a História registra.

Lula, por exemplo, nunca foi comunista, até os rechaçava no começo da vida sindical em São Bernardo do Campo (SP). Disputou a primeira eleição presidencial no 15 de novembro de 1989, uma semana depois da Queda do Muro de Berlim, evento que marcou o epílogo do comunismo.

Bolsonaro recebera indulgência no processo de expulsão no Exército e completava dez meses de estreia na política, como vereador na Câmara do Rio. Três anos mais tarde, estava no primeiro mandato de deputado federal quando os noticiários de televisão exibiram uma inusitada cena de Natal: a retirada da bandeira soviética do mastro do Kremlin, símbolo do poder na Rússia.

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Embora morto e sepultado, o comunismo continuou politicamente lucrativo no Brasil, terreiro histórico de ideologias zumbis. Na cruzada contra o inexistente, Bolsonaro se reelegeu sucessivamente na Câmara.

Na vida real, até ajudou a eleger Lula. Em 2002 fez campanha para o “comunista” de hoje, contra José Serra, o “comunista” da época.

“Confesso publicamente que votei no Lula no segundo turno, porque jamais votaria no candidato do Fernando Henrique Cardoso”, contou na tribuna da Câmara na manhã de quinta-feira 5 de dezembro. Eram 9h20m, registraram os taquígrafos no plenário. “No primeiro turno, trabalhei para Ciro Gomes, que perdeu” — prosseguiu. “No segundo, escolhi a opção que considerava a melhor.”

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Exalava confiança no seu candidato vitorioso: “Haverá brava crise pela frente, mas mantemos a esperança de dias melhores.”

Arrematou com uma sugestão ao “companheiro Lula, já que está na moda falar assim” sobre a composição do novo governo: “Consulte os quadros do PT, do PCdoB e de outros partidos para fazer suas escolhas.”

Depois de 19 anos, Bolsonaro segue tendo todo o passado pela frente.

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