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Novidade no Uruguai é o centro no domínio do governo e do parlamento

Candidatos das frentes eleitorais de esquerda e direita não estabeleceram com nitidez as diferenças entre suas propostas, principalmente na economia

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 25 nov 2024, 08h00

Quatro décadas depois da transição para a democracia, o Uruguai apresenta uma novidade: a estabilidade prossegue, lastreada na inibição do radicalismo e da desqualificação de adversários, mas, agora, sem que nenhum grupo possua maioria política claramente definida.

Nove em cada dez uruguaios aptos votar foram às urnas neste domingo (24/11), um índice de participação expressivo para os padrões da América do Sul.

Elegeram Yamandú Orsi e a vice Carolina Cosse, líderes de centro-esquerda do Movimento de Participação Popular (MPP). Nesta etapa, o MPP comanda a Frente Ampla, composta por frações de social-democratas, socialistas, comunistas e movimentos cristãos.

Perderam Álvaro Delgado e Valeria Ripoll, da Coalizão Republicana, formada por partidos de centro-direita. Representavam o governo de Luís Lacalle-Pou, um liberal com alta popularidade.

Como tem sido frequente na América do Sul nos últimos sete anos, o Uruguai escolheu mudar o governo. Em tese, representa mudança de rumo.

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Desta vez, no entanto, a nova direção uruguaia não está clara. Os candidatos do governo e da oposição, durante a campanha, não estabeleceram com nitidez as diferenças entre suas propostas para o país, principalmente na economia. A maior controvérsia é sobre os métodos de gestão dos programas sociais.

Do ponto de vista dos uruguaios, não parece ruim. Eles impuseram um equilíbrio de forças, a rota da negociação obrigatória dentro do governo e do parlamento. Aparentemente, foi o que levou o governista Delgado a tentar animar seus eleitores diante do resultado das urnas: “Uma coisa é perder as eleições, outra é ser derrotado, nós não estamos derrotados.”

A vitória de Orsi (49,8%) por uma diferença de quatro pontos percentuais em relação a Delgado (45,8%), no segundo turno, também renova o aval dos eleitores quanto a decisões consensuais sobre o futuro do país que, em proporção, possui na população um dos maiores contingentes de classe média na América do Sul.

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O principal é o valor da democracia e, nele, a igualdade como base para desenvolvimento econômico eficiente. Numa economia centrada no agronegócio, pressupõe expansão de mercado externo. A consequência natural é a persistência uruguaia na revisão das práticas do Mercosul – ditadas e preservadas com rigidez pela hegemonia Brasil-Argentina.

Para Orsi, o Mercosul precisa de “dinamismo” porque parou no tempo, estacionado na “esclerose”. Essa é uma “questão nacional”, assunto de Estado, repetiu durante os últimos quatro anos o presidente Lacalle-Pou. Há mais de duas décadas, governo e oposição mantêm a premissa de que Brasil e Argentina bloqueiam o caminho do Uruguai para acordos de livre-comércio à margem do Mercosul. O exemplo mais citado é o da China.

Orsi e Lacalle-Pou assistem, na primeira semana de dezembro, a uma reunião de cúpula do Mercosul. Espera-se que nesse encontro seja confirmado o tratado de livre-comércio com a União Europeia, negociado em 1999, confirmado em 2019 e até hoje não assinado. Para o Uruguai há vantagens. A assinatura, agora, só depende de decisão da Comissão Europeia, que é politicamente independente. Pode aceitar o acordo, apesar das pressões contrárias da França, e, em seguida, enviá-lo ao Parlamento Europeu para ratificação.

Ursula von der Leyen, presidente da comissão, tem reservas de hotel em Montevidéu para o período da cúpula do Mercosul. Não quer dizer muito, porque, no ano passado, ela se preparou para viajar e assinar o tratado no Uruguai. Na véspera, cancelou e ficou em Bruxelas.

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