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José Casado

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Informação e análise

No travesseiro

As culpas e os conflitos de Lula no ‘fracasso democrata’ que abriu espaço à extrema direita

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 26 set 2025, 11h56 - Publicado em 26 set 2025, 06h00

À beira dos 80 anos, Lula anda entretido em reflexões sobre as próprias ambiguidades, numa busca do tempo perdido em metade da vida atravessada na política. “Por que permitimos que a extrema direita crescesse com a força que está crescendo?”, provocou, numa espécie de autoanálise, em debate sobre democracia nesta semana em Nova York.

Lula é do tipo que se encanta com a própria voz. Adquiriu o hábito de falar muito, como todo político que tenta compensar a abstinência do palanque nas entressafras eleitorais. Conheceu o silêncio das ruas depois do trio de derrotas nas seis eleições presidenciais que disputou em 36 anos — viu-se obrigado a ficar fora das urnas na década passada: em 2014 porque Dilma Rousseff liquidou seu plano de retorno ao poder; e, em 2018, porque estava preso cumprindo sentença no enredo da Lava-Jato. Aprendeu a fazer as palavras voarem — e os escritos também.

No seminário paralelo à assembleia da ONU, abandonou o discurso escrito e improvisou sobre a ascensão da retórica “fascista” no vácuo daquilo que definiu como um “fracasso” dos democratas. “É virtude deles ou é incompetência nossa?”, incitou outros chefes de governo na plateia numa espécie de jogo de espelhos. “Vamos responder para nós mesmos: o que deixamos de fazer para fortalecer a democracia?” Mudou rapidamente o destinatário da pergunta: “O que eu fiz como presidente da República para fortalecer a organização popular e social?”.

Lula costuma recordar com bom humor as madrugadas insones em casa depois de eleições perdidas. Saltava da cama e se refugiava na cozinha do apartamento de São Bernardo do Campo (SP). Abria a geladeira, via as luzes acesas e não resistia: fazia um breve e imaginário discurso de candidato democrata na solidão iluminada para uma audiência literalmente gélida. Voltava para a cama e dormia.

Agora, acha essencial “acordar todo dia e perguntar o que é que a gente vai fazer pela democracia”. E, por isso, recomenda: “Quando for dormir à noite, encoste a cabeça no travesseiro e se pergunte o que você fez durante o dia para poder fortalecer a democracia. Com quantas pessoas você falou de democracia? Com quantas pessoas você falou da necessidade da organização popular? Quantas pessoas você chamou para se organizar?”.

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“As culpas e os conflitos de Lula no ‘fracasso democrata’ que abriu espaço à extrema direita”

Segue atolado em um modelo do passado, datado da época de criação do Partido dos Trabalhadores, coincidente com o fim de um ciclo de industrialização tardia no Brasil. “O meu partido, quando foi criado, tinha núcleo de categoria; núcleo por bairro; núcleo por vila; núcleo por local de trabalho; por local de estudo. Ou seja, era sociedade civil organizada no seu local de moradia, no seu local de trabalho, que fazia com que a democracia pudesse vencer. Eu pergunto: o que é que nós fazemos hoje? Vamos colocar a mão na consciência… O que é que nós fizemos ontem pela democracia? Com quantas pessoas nós falamos de democracia? Com quantas pessoas nós falamos de organização popular? A verdade é que nós não falamos. E, se nós não falamos, nós não organizamos. E, se nós não organizamos, a democracia perdeu”.

Insinuou a promessa de uma autocontrição no mercado futuro das memórias: “O que deixamos de fazer? Eu acho que deixamos de fazer muitas coisas que, em outro momento, eu pretendo detalhar”. Antes, sugeriu olhar pelo avesso: “Antes de procurar a virtude dos extremismos de direita, precisamos procurar os erros que a democracia cometeu na relação com a sociedade civil. Como estamos exercendo a democracia nos nossos países? Se encontrarmos essa resposta, vamos voltar a vencer a direita. Se não encontrarmos, vamos continuar sendo sufocados pelo negacionismo, pelo extremismo e pelo discurso fascista que estamos vendo agora. É isso”.

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Aos olhos do eleitorado, porém, ele parece distanciado da realidade. Exemplo: as pesquisas feitas nos últimos quatro meses pela Quaest mostram que, para seis em cada dez eleitores, Lula “perdeu a conexão com o povo”. Nas 2 004 entrevistas feitas na semana passada, em todas as regiões, ampla maioria (61%) dizia achar que ele ainda não recuperou esse elo perdido entre o discurso, a prática e a realidade. É um recorte da percepção do eleitorado sobre a “desconexão” do virtual candidato à reeleição, à margem da melhoria na aprovação do governo no período.

Críticos como o historiador Alberto Aggio têm repetido que Lula e o PT ainda não compreenderam a natureza da transformação política que está ocorrendo sob os seus pés. É provável, mas começam a procurar respostas na autoanálise de travesseiro sobre culpas e conflitos.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 25 de setembro de 2025, edição nº 2963

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