Black Friday: Assine a partir de 1,49/semana
Imagem Blog

José Casado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Seguindo Materia SEGUINDO
Informação e análise
Continua após publicidade

No tiroteio

Diplomacia do espetáculo deixou Lula sob fogo cruzado no exterior

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 29 jul 2024, 16h25 - Publicado em 26 jul 2024, 06h00

Lula se enredou na diplomacia do espetáculo. Sem ideias novas, agora recicla as antigas. Um exemplo é a proposta de um programa mundial para redução da fome e da pobreza.

É o mesmo projeto que ele apresentou no plenário da ONU vinte anos atrás, inspirado na criação de um imposto transnacional sobre a riqueza, como na época defendiam alguns governantes latino-americanos, entre eles, seu antecessor, Fernando Henrique Cardoso.

No marketing político, ensinou o publicitário Duda Mendonça, nada se perde, tudo se maquia. E Lula está aí, de novo, reciclando o Fome Zero global — a versão nacional ele engavetou em 2003 por sugestão de Mendonça, quando completou 100 dias do primeiro governo.

Sem estratégia clara e objetiva para o jogo de poder dos EUA e da Europa com a China, o governo limita-se a contemplar consequências na paisagem verde-amarela.

Uma delas é o progressivo aumento da dependência brasileira do comércio com os chineses, com um terço do total das exportações dirigido a esse mercado e quase 80% das vendas concentradas em apenas três matérias-primas (soja, minério e petróleo). Outro efeito é a estagnação dos investimentos americanos e europeus, que continuam hegemônicos no suprimento de capital estrangeiro.

Continua após a publicidade

Ambiguidades excessivas na política externa deixaram Lula numa espécie de limbo, circunscrito ao ativismo voluntarista que caracteriza a diplomacia do espetáculo.

Em Washington, é criticado pelos republicanos de Donald Trump e visto com desconfiança pelos democratas liderados por Joe Biden e Kamala Harris. Levou-os a acreditar que o Brasil foi além da linha da independência e da autonomia no flerte com China, contrapondo-se aos Estados Unidos. Uns acenam com futuras sanções, outros o criticam por “papaguear” propaganda antiamericana.

Em Pequim, sobram sorrisos amarelos. Preocupado com o rumo das eleições nos EUA, que pode derivar em novas ameaças de estrangulamento do fluxo de mercadorias para a China, o governo de Xi Jinping está acelerando importações de insumos de todo tipo (aumento de 16% no ano passado e de 6% até maio).

Continua após a publicidade

“Diplomacia do espetáculo deixou Lula sob fogo cruzado no exterior”

Está agora exigindo do Brasil uma espécie de prova de “amor”: rápida adesão ao plano chinês de comércio, com foco na garantia de abastecimento de matérias-primas (cereais, carnes, minerais e petróleo) — projeto conhecido como Rota da Seda. O Brasil, no entanto, ainda não definiu e nem sabe o que quer da proposta chinesa.

Essa relutância decorre, em parte, do receio de reações negativas dos EUA e de aliados na Europa. Mas se deve, principalmente, à inexistência de uma política que vá além do ativismo voluntarista enraizado no antiamericanismo dos anos 60 e reflita, com realismo, a diversidade de visões e interesses nacionais.

Continua após a publicidade

O projeto de liderança regional, pela ressurreição da União de Nações Sul-Americanas, acabou em fiasco. Foi torpedeado na solenidade de lançamento, no ano passado, pela contundência das críticas dos presidentes do Uruguai, o liberal Luis Lacalle Pou, e do Chile, o socialista Gabriel Boric. O Mercosul segue à deriva, sem perspectiva de resgate.

Lula fez duas grandes apostas eleitorais na América do Sul nos últimos dezoito meses. E perdeu. Jogou suas fichas no ditador Nicolás Maduro, retirando-o do isolamento para uma recepção com pompa em Brasília. Achou que poderia induzi-lo à “conversão” democrática. Deu no que deu: ao vislumbrar o fim da sua cleptocracia, Maduro insinuou reação com um “banho de sangue” na Venezuela; quando Lula retrucou medindo as palavras, o ditador o aconselhou a tomar chá de camomila.

Outra aposta eleitoral frustrada foi na disputa presidencial da Argentina. Como havia feito na Venezuela com os amigos Maduro e Hugo Chávez, Lula mobilizou seu governo e o PT em apoio aos amigos peronistas. Pela interferência indevida, paga o preço das críticas atrevidas de Javier Milei, que venceu nas urnas.

Continua após a publicidade

O cenário externo para o restante do mandato não é dos melhores. Terá dificuldades com o vencedor da eleição americana, seja o republicano Donald Trump ou a democrata Kamala Harris. Ao norte, na Venezuela, a oposição deverá cobrar-lhe o apoio permanente à cleptocracia chavista. Ao sul, continuará no alvo de Milei. E, como já se vê, enfrentará pressão crescente da China, dos EUA e da Europa para alinhamento no jogo de poder global. Lula vai precisar de algo mais do que o ativismo voluntarista na diplomacia para escapar do fogo cruzado externo até o fim do mandato.

Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

Publicado em VEJA de 26 de julho de 2024, edição nº 2903

Publicidade

Matéria exclusiva para assinantes. Faça seu login

Este usuário não possui direito de acesso neste conteúdo. Para mudar de conta, faça seu login

Black Friday

A melhor notícia da Black Friday

BLACK
FRIDAY

MELHOR
OFERTA

Digital Completo

Acesso ilimitado ao site, edições digitais e acervo de todos os títulos Abril nos apps*

a partir de 5,99/mês*

ou
BLACK
FRIDAY
Impressa + Digital
Impressa + Digital

Receba 4 Revistas no mês e tenha toda semana uma nova edição na sua casa (menos de R$10 por revista)

a partir de 39,96/mês

ou

*Acesso ilimitado ao site e edições digitais de todos os títulos Abril, ao acervo completo de Veja e Quatro Rodas e todas as edições dos últimos 7 anos de Claudia, Superinteressante, VC S/A, Você RH e Veja Saúde, incluindo edições especiais e históricas no app.
*Pagamento único anual de R$71,88, equivalente a 5,99/mês.

PARABÉNS! Você já pode ler essa matéria grátis.
Fechar

Não vá embora sem ler essa matéria!
Assista um anúncio e leia grátis
CLIQUE AQUI.