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No roteiro de Doria, embate com Aécio e acordo com Moro

Doria e Aécio partilham o guarda-chuva do PSDB, agora insuficiente para abrigá-los. Com Moro, plano é evitar a polarização. Falta combinar com o eleitorado

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO Atualizado em 28 nov 2021, 14h35 - Publicado em 28 nov 2021, 08h00

João Doria (53,9%) venceu, Eduardo Leite (44,6%) brilhou e Arthur Virgilio (1,35%) deu seu recado na única eleição interna promovida por um partido político para escolha do seu candidato à Presidência da República. Vitória degustada, Doria foi dormir com um roteiro para se legitimar como candidato competitivo dentro e fora do PSDB.

Deixou traçada, no discurso, a linha de fronteira que planeja para o partido na campanha de 2022: a disputa é contra Jair Bolsonaro (“vendeu um sonho e entregou um pesadelo”) e Lula (“fazer política pública aos mais pobres não dá a ninguém o direito de roubar”).

Havia um tom de mea culpa na manifesta desilusão com Bolsonaro, em quem se amparou na eleição ao governo paulista, em 2018, ajudando a desidratar o candidato presidencial do PDSB, Geraldo Alckmin. Se foi uma vacina contra a provável exploração do tema pelos adversários, o efeito tende a ser inócuo.

Com esse argumento indicou que o seu primeiro problema na agenda de campanha tem nome e sobrenome, é de Minas Gerais e possui peso específico na bancada tucana no Congresso: Aécio Neves, deputado federal e ex-governador mineiro.

Coube a Arthur Virgilio, ex-prefeito de Manaus agora aliado a Doria, transmitir uma mensagem dura, objetiva, sem precisar citar o deputado mineiro: “Nós não vamos poder continuar com essa dicotomia de bolsonaristas e não-bolsonaristas [no PSDB]. Nós temos que chamar essas pessoas para o nosso redil e as que não forem para o nosso, por favor procurem outro [partido].”  No sentido mais suave, redil pode significar agremiação de pessoas com interesses comuns.

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Aécio é reconhecido como um pragmático tucano bolsonarista, mas nem sempre foi assim. Em 2006, quando disputava o governo de Minas, criou o voto “Lulécio, com o qual ajudou a derrotar o candidato presidencial do seu PSDB, Geraldo Alckmin, e a reeleger Lula.

Hoje, a única coisa que Doria e Aécio partilham é o guarda-chuva partidário,. Está claro, desde ontem, que já não é suficiente para abrigá-los na travessia do próximo verão. Uma das opções de Aécio, segundo aliados, é migrar para o União Brasil (fusão do DEM com o PSL).

Doria mostra entusiasmo e disposição, fatores essenciais na maratona eleitoral à frente, sobretudo para quem figura no grupo dos menos favorecidos pela preferência dos eleitores no momento — tem oscilado entre dois e cinco pontos percentuais nas pesquisas. Nenhuma novidade, para ele. Estava em situação similar parecida um ano antes de vencer as eleições para a prefeitura paulistana e, depois, ao governo de São Paulo.

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O jogo, desta vez, é mais desafiador. Requer, por exemplo, que chegue ao final do primeiro trimestre de 2022 turbinado nas pesquisas para garantir protagonismo numa eventual negociação entre candidatos antibolsonaristas e antilulistas.

O projeto para tentar acabar com a polarização eleitoral é real e continua sendo discutido com Sergio Moro, do Podemos. Será o tema de Doria com outros candidatos e partidos nas próximas semanas.

Falta combinar o roteiro com um eleitorado acossado por uma grave crise econômica em meio a uma emergência sanitária mundial.

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O histórico do PSDB mostra ser possível controlar a inflação, reverter o desemprego e reduzir o nível de  empobrecimento. Quanto ao desastre pandêmico, Doria sempre poderá reivindicar a liderança na produção de uma vacina enquanto o governo federal fazia do negacionismo a base da política de saúde pública.

Quem governa São Paulo tem influência no maior colégio eleitoral (33 milhões de votos) e domina o segundo orçamento da República. Subestimar essa realidade tem sido erro repetitivo de políticos com mais ego do que ideias. Por coincidência, todos acabaram personagens secundários nos livros de história.

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