O papel do ministro da Defesa, Walter Braga Netto, na crise institucional motivou uma “apuração preliminar” na Procuradoria-Geral da República, confirmada ao Supremo Tribunal Federal nesta semana.
Desde que assumiu a Defesa, em março, Braga Netto se tornou uma referência da tentativa de amálgama dos interesses de Jair Bolsonaro com os das instituições militares.
Em maio, levou-as ao palanque eleitoral num comício do presidente-candidato em Brasília. “As Forças Armadas estão [prontas] para proteger os senhores para que possam produzir com tranquilidade” — discursou para a plateia mobilizada por empresários do agronegócio de Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais. A liberdade é o nosso bem maior e fundamental.”
Até o fiasco da coreografia enfumaçada de veículos de combate na Praça dos Três Poderes, no dia em que a Câmara rejeitou o regresso ao voto impresso, Braga Netto produziu mais confusão política do que todos os seus antecessores juntos no Ministério da Defesa.
Agora está no alvo de uma investigação motivada por petições de parlamentares ao Supremo sobre ameaças à realização de eleições em 2022. Ele nega.
A leniência militar, somada à omissão civil que reluta em tratar assuntos da caserna além da fronteira do orçamento, permitiu a Bolsonaro dar ao governo uma moldura militarista. No Palácio do Planalto passou a tratar Exército, Marinha e Aeronáutica como se fossem órgãos governamentais, embora estejam definidas na Constituição como instituições de Estado.
A mistura não deu liga. A radicalização prevista a partir dos comícios do Dia da Independência (o ministro da Defesa participou de um deles) naufragou no solo seco da praça dos Três Poderes, em Brasília.
Restaram prejuízos à imagem das instituições militares, tendência confirmada na pesquisa Ipespe (antiga XP/Ipespe) divulgada ontem, onde 37% declaram não confiar nas Forças Armadas.
A mudança na percepção coletiva começou em abril de 2019, quando se captou na mesma pesquisa a primeira variação na confiança pública — uma queda de 70% para 66% entre os que declaravam confiar no Exército, na Marinha e na Aeronáutica.
O processo corrosivo avança no compasso da crise e é coincidente com todo o esforço presidencial para caracterizar instituições como seções de governo. Resultado: em 31 meses de Bolsonaro aumentou em 13 pontos percentuais na desconfiança pública sobre as Forças Armadas — o índice de 24% , em dezembro de 2018, já está em 37%, informa a sondagem feita entre 22 e 24 de setembro.