Lula só deixou feridos no comício de Itaquera, e todos no governo
Anunciou uma "guerra" eleitoral. Classificou partido aliado como adversário, que reclamou: "Foi com a estrutura do governo fazer campanha contra o MDB"
Lula mostrou-se incomodado com a plateia esvaziada em Itaquera, bairro pobre da periferia de São Paulo.
Levou nove ministros e seu candidato à prefeitura paulistana para um comício eleitoral extemporâneo durante a celebração do 1º de Maio. O evento foi organizado pelo PT e centrais trabalhistas, com patrocínio de uma empresa pública, a Petrobras, e de uma entidade do sindicalismo empresarial, o Sesi.
Com a audiência reduzida, sobrou espaço no estacionamento do Itaquerão, construído pela empreiteira Odebrecht (agora Novonor), na década passada, por decisão de Lula e durante a administração da sucessora, Dilma Roussseff.
Lula e Dilma discursavam sobre a “política de conteúdo nacional”, enquanto a obra avançava como uma síntese de catálogo de produtos importados: mármore encomendado na Grécia e na China; vidros na Itália; carpetes nos Estados Unidos; louças sanitárias no Japão, e, portas na Alemanha, entre outros.
Custou 2 bilhões de reais, preço atualizado, num intrincado jogo de planilhas financeiras com elevada proporção de subsídios estatais.
O fiasco só não foi maior porque o comício aconteceu do lado de fora, entre as 1.900 vagas do estacionamento ao ar livre. Dentro do estádio teria sido amplificado. Nele cabem 38 mil pessoas e, numa conta otimista, menos de quatro mil pessoas saíram de casa no feriado ensolarado para aplaudir Lula.
Ele anunciou uma “guerra” eleitoral de mãos dadas com Guilherme Boulos, deputado do Psol, sua escolha para disputar a Prefeitura de São Paulo.
Vai acontecer em três frentes e simultaneamente, ele avisou: “Contra o nosso adversário nacional (Jair Bolsonaro); contra o nosso adversário estadual (o governador Tarcísio de Freitas); e, contra o nosso adversário municipal (o prefeito Ricardo Nunes).”
Na sua primeira batalha, o comício inaugural da campanha governista na cidade de São Paulo, Lula só deixou feridos. E todos no governo.
Um deles, o MDB do prefeito Nunes. “Ele foi a São Paulo com a estrutura do governo para fazer campanha eleitoral contra o MDB”, protestou o presidente do partido, deputado Baleia Rossi. Lembrou os três ministros, os 44 deputados federais e os 11 senadores associados a Lula em “ação colaborativa-propositiva” desde a campanha presidencial de 2022.
A guerra de Lula é pela reeleição ou pela eleição de um eventual substituto em 2026, caso decida se aposentar do ofício de candidato presidencial permanente do PT.
Ao estabelecer uma linha de frente na sua “guerra” eleitoral, dois anos e meio antes da eleição presidencial, indicou como adversários o MDB, o Republicanos e a fração do Partido Liberal que preferiu ir para o governo Lula a seguir atrelada a Bolsonaro.
Nada indica que, em 2026, Lula conseguirá repetir a “frente ampla” de 2022, até porque descartou-a entre a transição e a posse. O MDB foi relevante nessa montagem. Empurrar o partido para “o lado de lá”, na tradução interessada de Boulos, pode até ser útil para a campanha paulistana do Psol, mas prenuncia um custo político maior em Brasília.
Basta imaginar um megabloco partidário emergindo no outono de 2025 com MDB, PP, Republicanos e União Brasil. Há conversas em andamento, o que não significa que vá acontecer. Porém, a força e a fé de Lula podem ajudar na realização.
Nessa hipótese, no próximo 1º de maio ele teria como adversários um grupo de partidos com quase 200 deputados federais e 41 senadores. Além desses, ainda haveria o PL com os seus 95 deputados e 12 senadores.
É um cenário de tempestade política perfeita para a segunda metade do mandato de um presidente cujos aliados à esquerda estão em minoria nos plenários do Congresso e perderam o poder de mobilização nas ruas.
O fiasco do comício de Lula com plateia esvaziada em Itaquera só é comparável ao do PT nas manifestações realizadas no mês passado.