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José Casado

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Informação e análise

Impasses de 2026

Preso na baixa renda, o Brasil é moderno com retrato desbotado: ainda é o antigo país do futuro

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 24 dez 2025, 06h00 • Atualizado em 24 dez 2025, 09h48
  • Foi no verão de 2003. Ao tomar posse no Congresso Nacional, Lula retratou um Brasil que por cinco séculos cresceu, enriqueceu, mas não redistribuiu renda e ingressava no novo milênio com uma “deterioração dos laços sociais” — na opinião dele, resultado da ineficácia das políticas econômicas dos antecessores civis na Presidência (José Sarney, Fernando Collor, Itamar Franco e Fernando Henrique Cardoso). Criticou o legado de um país sem crescimento, com “uma nuvem ameaçadora ao padrão tolerante da cultura nacional”.

    Lá se foram vinte e dois anos. Em metade deles foi Lula quem gerenciou o crescimento, na média anual de 3,5% do produto interno bruto (PIB). É improvável que ultrapasse esse patamar nos doze meses de mandato que lhe restam. É nível inferior à expansão da economia com Sarney (4,5%) e Itamar (5%). Supera o valor médio de Fernando Henrique (2,4%), Dilma Rousseff (1,2%), Michel Temer (0,06%) e Jair Bolsonaro (1,4%).

    A tática da veneração à personalidade do líder combinada à eficiência da sua milionária máquina eleitoral fez do Partido dos Trabalhadores o mais longevo no poder neste início do século XXI. Ganhou cinco das seis eleições presidenciais no período e, agora, se mobiliza para ampará-lo na sua última batalha nas urnas. Se eleito em outubro, governaria até os 85 anos de idade. Seu adversário mais recente, Jair Bolsonaro, está condenado a ficar fora do jogo eleitoral até o aniversário de 105 anos — se a biologia permitir. Ambos encarnam o fim de um ciclo de políticos nascidos depois da Segunda Guerra Mundial que, na diversidade ideológica, escreveram a história da redemocratização do país a partir dos anos 1980.

    Esse Brasil moderno está com o retrato desbotado porque continua a ser o mais antigo país do futuro. Aprisionado na baixa renda, chega a 2026 patinando e com perdas inestimáveis. Caso exemplar é o da telefonia 5G. Governo e empresas privadas investiram na montagem dessa rede de conexão rápida, estável e veloz em dois terços do território nacional. A modernidade, porém, é inalcançável para ampla maioria (75%) dos consumidores. Eles não têm renda suficiente para comprar telefones celulares compatíveis com essa tecnologia.

    “Preso na baixa renda, o Brasil é moderno com retrato desbotado: ainda é o antigo país do futuro”

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    O país pagou caro por uma nova e fundamental base tecnológica, mas não pode usá-la plenamente por causa da insuficiência de renda da população. Uma das ironias embutidas nessa história é que, em tese, a transição para a economia digital ajudaria a reduzir o custo do Estado brasileiro, hoje financiado por uma das maiores cargas tributárias do planeta (34% a 38% do PIB, dependendo do critério de cálculo).

    Sem relevância no mapa-múndi da pesquisa, desenvolvimento e inovação tecnológica, o Brasil se mantém com a economia fechada, em contínua desindustrialização, cada vez mais dependente das exportações de produtos primários e com oferta crescente de empregos pouco qualificados.

    Esse mosaico de fiascos políticos tende a balizar a campanha de 2026, indicam as mais recentes pesquisas eleitorais, entre elas as da Quaest, Datafolha e AtlasIntel/Bloomberg. As expectativas dos eleitores são proporcionais à frustração coletiva e, basicamente, podem ser resumidas assim:

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    1) Transparece esperança em compromissos dos candidatos aos governos federal e estaduais sobre políticas de segurança pública para queda real nos índices de criminalidade, com efeitos perceptíveis na redução da violência urbana;

    2) Mantém-se a crença na possibilidade de aumento real na renda das famílias, altamente endividadas, se o crescimento econômico for alavancado por inflação e juros menores, o que contribuiria para resolução ou mitigação dos problemas sociais visíveis nas ruas das cidades.

    A campanha de 2026 parece mais difícil porque o efeito eleitoral dos programas sociais já não seria suficiente para decidir uma disputa presidencial como antes. Bolsa Família e similares continuam relevantes, mas agora são considerados direito adquirido e obrigação de qualquer governo.

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    Além disso, partidos e candidatos se acomodaram com a precária vitrine de ofertas eleitorais. A dez meses da eleição, por exemplo, ninguém sabe ou viu projeto do governo Lula ou da oposição sobre a insegurança pública no topo das preocupações do eleitorado. Não há, também, sequer esboço de proposta consistente para resgatar o país do ciclo de estagnação que completa quatro décadas. Nem há debate ou definição sobre o que o Brasil quer — e pode ousar — no novo mundo, estando no centro da disputa entre Estados Unidos e China por influência na América Latina.

    Os textos dos colunistas não refletem, necessariamente, a opinião de VEJA

    Publicado em VEJA de 24 de dezembro de 2025, edição nº 2976

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