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Guedes e Arthur Lira imaginam privatizar a Petrobras

Em dueto, o ministro e o presidente da Câmara falam em permissão legislativa para vender as ações da companhia de petróleo controladas pelo governo federal

Por José Casado Materia seguir SEGUIR Materia seguir SEGUINDO 14 out 2021, 08h00

A ideia é antiga e pode merecer um bom debate político sobre as fronteiras do interesse estratégico do país e os do patrimônio do Estado. O problema está na sua oferta como um elixir para resolver problemas de caixa governamental em temporadas eleitorais. E, nessas ocasiões, sempre em nome dos pobres.

Guedes retomou a ideia ontem, numa conversa com jornalistas em Washington: “Quando os preços dos combustíveis sobem, os mais frágeis estão em dificuldades. Imagine, então, se eu vender um pouco das ações da Petrobras e der para eles [os pobres] esses recursos?”

Guedes merece crédito pela coerência: há exatos 32 anos defende a venda da companhia de petróleo e, também, das demais empresas públicas. Registrou a tese da privatização total para “zerar” a dívida pública federal (interna) no programa do candidato do Partido Liberal em 1989, Guilherme Afif, na primeira eleição presidencial depois da ditadura. Afif terminou em sexto lugar, e Fernando Collor venceu Lula no segundo turno.

Quase à mesma hora em Brasília, distante de Guedes cerca de 4 mil quilômetros, Arthur Lira, presidente da Câmara, divagava sobre o impacto dos altos preços do petróleo e derivados em entrevista à rádio CNN: “Não seria o caso de privatizar a Petrobras? Não seria a hora de se discutir qual a função da Petrobras no Brasil? É só distribuir dividendos para os acionistas?”

Lira, comandante do Centrão, parecia estar num dueto com o economista liberal. E seguiu na digressão: “Ela deixou de fazer investimentos para distribuir dividendos [aos acionistas, governo e investidores privados]. Para que serve esse patrimônio para o povo brasileiro? Essas discussões que têm que ser feitas.”

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Guedes costuma se referir à companhia de petróleo como um totem de tribos políticas que julga prisioneiras do ideário nacionalista da primeira metade do século passado. Lira não é conhecido pela reflexão, mas pela capacidade de ação — há oito meses no comando da Câmara já aprovou 141 novas legislações, algumas muito polêmicas como a da privatização da estatal Eletrobras.

Por trilhas diferentes, Guedes e Lira chegaram ao mesmo ponto: a permissão legislativa para venda dos papéis da Petrobras controlados pelo governo. Estima-se que representem 38% do total de ações ordinárias, com direito a voto, ficando o Estado com algum poder de veto (ação do tipo “golden share”), como já aconteceu nos casos da Embraer e da Vale.

O modelo em estudo equivale ao adotado recentemente para a Eletrobras, criticado pelo excesso privilégios concedidos a alguns segmentos privados, como os grupos empreiteiros de infraestrutura de gasodutos.

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Guedes e Lira, por enquanto, apenas vagueiam pela ideia de privatizar a companhia de petróleo. Há dúvida se é jogo combinado com Jair Bolsonaro, antigo defensor do intervencionismo estatal na economia.

Em 1999, quando o trio mal se conhecia, Bolsonaro deu uma entrevista na televisão. O apresentador Jô Soares quis saber sua opinião sobre o programa de privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso, que previa a venda de estatais como Vale e Telebrás.

Deputado pelo Partido Progressistas — o mesmo de Lira —, ele riu. E respondeu com uma proposta: fuzilar o presidente. Não se sabe se depois de 22 anos Bolsonaro mudou de ideia.

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